segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

STF debate regra de eleição em tribunais

Fonte: folha.uol.com.br 28/02



Critério de antiguidade na escolha de presidentes é questionado; Judiciário teme disputas e politização interna

Regra da aposentadoria compulsória aos 70 anos tem levado cortes a eleições extraordinárias e mandatos-tampão

Os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) vão discutir as regras que determinam a ocupação da presidência dos tribunais do país pelos desembargadores mais antigos das cortes.
O tema é um dos pontos do projeto de lei do novo Estatuto da Magistratura, que após ser debatido no STF será encaminhado ao Congresso.
O relator do projeto no STF é o ministro Ricardo Lewandowski. Ele afirma que o texto está em fase final de elaboração, mas ainda não pode ser divulgado.
Um esboço do projeto já foi entregue ao presidente do STF, ministro Cezar Peluso, segundo Lewandowski.
Grande parte da magistratura defende que o critério da antiguidade seja extinto ou no mínimo atenuado, para que as eleições nos tribunais sejam mais democráticas.
Porém, muitos juízes são favoráveis à restrição do universo de elegíveis em benefício dos mais antigos, sob o argumento de que isso evita uma politização interna que pode ser danosa ao funcionamento do Judiciário.
Um dos problemas do critério da antiguidade é que muitas vezes os eleitos para os cargos completam o período para a aposentadoria compulsória, aos 70 anos, durante os mandatos.
Isso pode levar à necessidade de pleitos extraordinários e mandatos-tampão.
Foi o que ocorreu no TJ (Tribunal de Justiça) de São Paulo. O presidente eleito para o biênio 2010/2011, Antonio Carlos Viana Santos, morreu em janeiro, e os dois desembargadores na linha sucessória dele se aposentaram nas últimas semanas.
A nova eleição para a presidência do TJ-SP ocorre no dia 3.
O tribunal paulista já tentou em 2007, realizar uma eleição com uma lista de candidatos mais ampla.
Uma resolução da corte permitiu que integrantes do Órgão Especial do TJ pudessem ser escolhidos para os cargos máximos do tribunal.
Dos 25 componentes do Órgão Especial, 12 são escolhidos por um colégio eleitoral que reúne todos os desembargadores do TJ (355), e 13 passam a integrá-lo pelo critério da antiguidade.
Porém, o STF barrou a medida, sob o argumento de que ela violou a Loman (Lei Orgânica da Magistratura Nacional), de 1979, que fixa as regras favoráveis aos mais antigos nas eleições.
Nesse julgamento Lewandowski foi voto vencido. Para ele, pelo menos os membros dos Órgãos Especiais deveriam ser elegíveis para os altos cargos das cortes.
"Em um TJ como o de São Paulo, com mais de 350 desembargadores, pessoas com grande experiência profissional e vivência na magistratura têm obstado o direito fundamental de se candidatar e ser presidente, vice e corregedor da própria instituição", afirma o ministro.

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CARLOS HEITOR CONY


Fonte: folha.uol.com.br 27/02


Biografia do leão

RIO DE JANEIRO - Muito antes de De Gaulle, eu já suspeitava de que o Brasil não era um país sério. Tinha motivos genéricos e pessoais para isso. No genérico, a certeza de que tudo é possível (ou impossível), dependendo do jeito e da hora do problema. No pessoal, as inúmeras vezes em que mudaram as leis, regulamentos e as posturas para o meu lado.
Já fui jornalista, repórter, redator e editor sem deixar de exercer a função tradicional a que me habituei e à qual estou ligado há 64 anos.
Há tempos, numa repartição, indagaram minha profissão e eu respondi: jornalista. O camarada levou um susto, pensando que ouvira "jornaleiro". Repeti que era jornalista, que escrevia em jornal, que era sindicalizado. O camarada foi consultar um chefe, o qual consultou outro chefe, ambos consultaram um diretor, abriram um livrinho de códigos e determinaram que eu era "comunicador social".
Outro exemplo: o imposto de renda. Nos países sérios, o cidadão leva hora e meia para ficar em paz com o fisco. Basta o cidadão ser honesto e o governo também.
No Brasil, todos os anos mudam os formulários -aliás, neste ano só vale declaração via internet-, as deduções, as alíquotas, o diabo.
Agora, o impasse: para aprovação do novo salário mínimo, o governo ofereceu uma correção de 4,5% na tabela do IR pelos próximos quatro anos.
A mecânica do fisco, nos países sérios, é a mesma e é simples: o cidadão ganha tanto, gasta tanto e deverá pagar tanto. Se fraudar, pode ser preso. No Brasil, tudo se complica e todos se estrumbicam.
Não adianta o cidadão tentar ser honesto: os cálculos são tão confusos e há tanta bi e tritributação que o cidadão fatalmente cometerá enganos ou contra si ou contra o erário. Não adianta ser sério: o país não é.

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FERREIRA GULLAR

O povo desorganizado Fonte: folha.uol.com.br 27/02

A fagulha que incendiou a nação egípcia foi o suicídio de um jovem, em resposta à repressão policial



O FIM da ditadura de Hosni Mubarak, no Egito, pode suscitar indagações acerca das consequências que podem advir dela, mas num ponto todas as opiniões parecem coincidir: foi o povo desorganizado que pôs abaixo o regime autoritário que durara 30 anos.
No Egito havia -e ainda há- numerosos partidos e organizações sociais que, de uma maneira ou de outra, vinham atuando na vida do país. Mas não partiu de nenhuma delas a mobilização popular que, concentrada na praça Tahrir, durante 18 dias, obrigou o ditador, obsessivamente apegado ao poder, a abrir mão dele. A fagulha que incendiou a nação egípcia foi o suicídio de um jovem, em resposta ao abuso da repressão policial.
Esse gesto desesperado despertou a revolta inicialmente de algumas dezenas de jovens, depois de centenas, de milhares e finalmente de milhões de cidadãos. Ignorando o poder repressivo do regime, foram para a rua, ocuparam a praça e receberam o apoio do povo egípcio. O povo desorganizado se mobilizou e através da internet passou a coordenar suas ações e seus objetivos. Parece um milagre? Pode parecer, mas não é. A razão disso é que o povo é, de fato, o detentor do poder, esteja ele organizado ou não.
Essa rebelião popular espontânea leva-me a refletir sobre o que chamo de "povo desorganizado". O que é, então, o povo organizado? Certamente aquelas parcelas da população que atuariam nos sindicatos e em outras entidades profissionais, estudantis e culturais. O objetivo de tais organizações, ao serem criadas, é defender os interesses das categorias e classes sociais que representam. A verdade, porém, é que isso nem sempre acontece e pode até mesmo ocorrer que tais organizações passem a se valer de sua suposta representatividade para atuar contra os interesses que deveriam defender.
Isso pode acontecer de várias maneiras, especialmente nos regimes autoritários. Por exemplo, no Brasil, quando os militares tomaram o poder, prenderam as lideranças sindicais e as substituíram por agentes do regime. A partir de então, essas entidades, que deveriam representar o povo organizado, agiam em sentido oposto, isto é, impedindo toda e qualquer manifestação contrária ao governo. Por isso que a primeira grande manifestação popular contrária à ditadura -a passeata dos Cem Mil- nasceu da mobilização espontânea de intelectuais e artistas que, em face da repressão policial, se concentraram num teatro e dali apelaram para a solidariedade da população, que aderiu a eles.
Mas essa noção da potencialidade política do povo desorganizado deveria ser acionada também no estado democrático, quando as entidades, que deveriam lutar pelos direitos da população, são cooptadas pelos que exercem o poder.
No Brasil, temos um péssimo exemplo: o de Getúlio Vargas, que, ao criar o imposto sindical, anulou a combatividade dos sindicatos de trabalhadores. Foi uma medida maquiavélica. Enquanto em outros países os sindicatos nascem da conscientização dos trabalhadores, que neles se organizam e os mantêm com sua contribuição mensal, os nossos, sustentados pelo imposto que é cobrado de todos os assalariados e controlado pelo governo, dispensam a participação efetiva dos assalariados.
Noutras palavras, são entidades-fantasmas, que não nasceram da necessidade dos empregados de se organizarem em entidades que defendam seus direitos. Por isso mesmo, poucos são os trabalhadores que delas participam, enquanto os oportunistas, com o apoio de minorais organizadas, passam a dirigi-las, impondo-se como lideranças fajutas.
Através delas, vinculam-se a partidos políticos, elegem-se deputados, tornam-se ministros e passam a atuar na vida política. Como a maioria dos trabalhadores ignora tudo ou quase tudo do que estou dizendo aqui, esses impostores passam por ser líderes de verdade e servem de "pelegos" para manter os trabalhadores submissos aos jogos de interesses.
Agora, mesmo esses falsos líderes apresentaram-se como defensores de um aumento do salário mínimo maior que o oferecido pelo governo, num jogo de cartas marcadas, demagógico, cujo resultado estava previsto.
E assim as coisas irão até que, um dia, o povo desorganizado perca a paciência e acabe com essas lideranças de araque e esses sindicatos de mentira.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

livros

ENTREVISTA JOÃO UBALDO RIBEIRO

A literatura nunca vai perder sua força criativa

Fonte: folha.uol.com.br 26/02

O escritor baiano, que prepara novo romance, fala sobre a velhice e a antiga polêmica com a Flip, onde vai receber homenagem pela carreira

Confirmado: Sargento Getúlio, Barão de Pirapuama e a misteriosa senhora CLB estarão na próxima Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), que acontece entre 6 e 10 de julho.
Quem falará por eles é seu criador, João Ubaldo Ribeiro, que acaba de fazer 70 anos. O escritor mora numa cobertura no Leblon, de onde sai muito pouco, geralmente para encontrar amigos, como Rubem Fonseca.
Passa a maior parte do tempo num refúgio refrigerado, onde, envolto por livros e um silêncio que garante a concentração, encara a tela de um computador.
Foi nesse escritório que João Ubaldo recebeu a Folha para uma entrevista. Numa conversa franca e simpática, entremeada por comentários divertidos e algumas boas risadas, revelou que já tem um novo romance na cabeça, falou de seu métodos de trabalho e da carreira bem-sucedida -tem dois Jabutis, por "Sargento Getúlio", em 1971, e "Viva o Povo Brasileiro", em 1984, e um Camões, recebido em 2008.
Falou também sobre a Flip, assunto que rendeu desentendimentos em 2004, quando retirou seu nome do evento, por considerar-se desprestigiado diante de outros convidados e por considerar a festa "uma realização voltada para autores da Companhia das Letras".
Um pouco desconfiado da própria memória, disse nunca ter sido convidado novamente, até agora. De qualquer forma, tanto o popular autor de "A Casa dos Budas Ditosos" quanto a Flip mostraram-se avessos a realimentar a polêmica.



Folha - É verdade que o senhor já tem um romance novo na cabeça?
João Ubaldo Ribeiro-
Sim, mas antes de começar a escrever tenho de administrar meus compromissos. Não se pode interromper um romance, senão desanda. E perder o livro acontece muito, não só comigo. Você larga o livro três dias e quando volta não encontra mais os personagens, perde o contato.

O que mudou para o senhor para aceitar o convite da Flip, depois da confusão em 2004?
Nada, nunca bati a porta, apenas me trataram condignamente, como qualquer outro. Não quero ser estrela, só não quero ir na rabada dos etcs., pois não sou um iniciante. É a primeira vez que me convidam depois daquele episódio. E provavelmente vou gostar, apesar de não ter mais saco para viajar.

O que aconteceu afinal?
Tive a desinteligência de reparar que meu nome era raramente divulgado entre os convidados, aí eu decidi não ir. No release aparecia "fulano, fulano, fulano e outros".
Esse "outros" era eu. Aí eu disse: outros o caralho! De qualquer forma, não foi nenhuma briga.

Muda algo fazer 70 anos?
Fazer 70 é melhor que não fazer, é óbvio. Eu tendo a partilhar a observação de meu amigo Jorge Amado, que dizia: "Compadre, já me falaram muito das alegrias da velhice, mas ainda não me apresentaram nenhuma" (risos). Eu talvez tenha algumas, um maior desapego a certas convenções.
Não chego ao ponto de dizer que a alegria da velhice é poder peidar em público, mas é algo deste jaez, talvez menos escatológico.

Talvez tenha ficado mais fácil escrever.
Não. Apesar de manejar bem a técnica, continuo escrevendo com dificuldade. Ainda mais com computador, que torna o trabalho mais lento. Com a facilidade de mexer no texto a gente acaba fazendo mais mudanças do que deveria.

Como descobriu que escrever podia ser algo importante?
Não sei direito. Deve ter sido com uns nove anos, quando o Monteiro Lobato morreu. Eu era leitor fanático dos livros dele. Para mim ele não era nem gente, era atemporal, não podia morrer. Aí eu comecei a escrever aventuras de Narizinho e Pedrinho.

Como foi criar uma obra complexa como "Sargento Getúlio", considerado por muitos seu melhor livro?
Na época eu não tava muito convencido se eu realmente era escritor. Quando acabei o primeiro capítulo não sabia absolutamente o que vinha a seguir. Acho que o reescrevi 17 vezes.
Aí quase mato o meu pobre livrinho. Mudei o ponto de vista, mudei o narrador e me veio a ideia jericoide de alternar um capítulo na primeira e outro na terceira pessoa, um amadorismo deplorável naquela altura.
Ainda bem que meu anjo da guarda me segurou. Ele chama Pepe. Não devia divulgar, na Bahia não se revela o nome do anjo da guarda.

E "Viva o Povo Brasileiro"? Tinha aquela história de "livro bom é livro que fica em pé".
Quem me provocou um livro grosso foi o então editor da Nova Fronteira, Pedro Paulo Sena Madureira. Ele dizia: "Vocês escritores brasileiros só escrevem essas merdinhas que a gente lê na ponte aérea". Aí fiz o livro desse tamanho.
Aliás, ele é frequentemente mal interpretado. Disseram que recontava a história oficial do Brasil do ponto de vista dos oprimidos. Eu nunca pensei nada disso. Seria uma pretensão descomunal.

Chegaram a dizer que o senhor era um misto de Guimarães Rosa e Graciliano Ramos. O senhor concorda?
Nem um pouco. Acho que na época nem tinha lido Guimarães Rosa -e até hoje não sou leitor dele.

O senhor é leitor de quem?
Hoje, de Shakespeare. E de Jorge de Lima, Mark Twain. Fico lendo as mesmas coisas. Gosto muito de poesia, leio os poetas ingleses, gosto de Auden, Dylan Thomas.

O senhor revelou ter tido alguns bloqueios e até um certo pânico, mas também deve ter se divertido escrevendo, não?
Muito! Eu rio e choro com meus personagens, que frequentemente ganham vida própria.
O Nego Leléu de "Viva o Povo", por exemplo, nasceu para ser coadjuvante e se tornou um dos mais importantes no livro. O cônego que esculhamba tudo também. Abriu a boca e não fechou mais. Eu queria matá-lo e não conseguia (risos).
Me divirto tanto que não escrevo na frente de ninguém, só da minha mulher. Me lembro de um episódio engraçado, em Itaparica.
Eu estava escrevendo uma cena do "Viva o Povo", em que o Barão de Pirapuama comete uma grosseria inominável com a baronesa, e eu queria que ela respondesse com uma mesura. Aí eu fiquei na frente da máquina assim (levanta e faz a mesura). Meu compadre Bento viu e achou que eu estava louco!

Ouvi dizer que tem gente que acha que seus personagens são reais, é verdade?
Sim! (ri) Durante um evento numa livraria, um sujeito se aproximou e me disse: "Eu queria muito lhe conhecer pois sou descendente do barão do seu livro". Tentei explicar que não era possível, que o barão era inventado. Ele ficou indignado! (risos)

O senhor já mencionou a literatura como uma porta para a fantasia. Hoje, em que há milhões de portas para a fantasia, o papel da literatura está ameaçado?
Não, a literatura nunca vai perder sua força. O leitor não pode assumir a passividade que assume assistindo a um filme, vendo TV ou até ouvindo música.
Estão acrescentando tantos recursos aos livros eletrônicos que eles estão deixando de ser livros e virando DVDs. Daqui a pouco volta-se ao livro de papel como uma grande conquista.

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MEC quer participação das universidades no Enem

Fonte: UnB.br 26/02

Edital vai reunir contribuição de especialistas de instituições de ensino superior na elaboração de banco de questões para o exame

O Ministério da Educação quer a participação das universidades na elaboração das questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em reunião com reitores das universidades federais nesta quinta-feira, 24 de fevereiro, a presidente do Instituto Nacional de Estudo e Pesquisas Educacionais (Inep), Malvina Tuttman, anunciou o lançamento de um edital para reunir especialistas que contribuam com a construção de um banco de questões para as futuras edições da prova.

Hoje, o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) – que usa a nota do Enem como única fase do processo seletivo de candidatos ao ensino superior público – é usado por 83 instituições, num total de 83.125 vagas. Apesar das polêmicas que envolveram falhas e vazamento de informações em edições passadas do exame, Malvina reforça a importância de expandir a prova. “O Enem foi usado nos últimos dois anos como projeto piloto, ao avaliarmos o impacto, ao montarmos uma proposta de ampliação”.

O edital, que deve ser lançado em breve, faz parte do plano do governo federal para a reformulação no Enem, que pode incluir duas provas por ano. Malvina reforçou que, apesar das polêmicas, os números mostram o crescimento do exame na educação brasileira. “O número de candidatos, 4 milhões na última edição, e de instituições que aderiram ao exame de forma única ou parcial ampliou”, destaca. “Nesse sentido, a credibilidade da prova não foi afetada”.

O vice-presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), professor João Luiz Martins, elogiou a iniciativa do Inep de buscar a aproximação com as universidades. “Hoje o Enem é uma ferramenta importante no sistema federal para ampliar ao acesso ao ensino superior”, disse. “Envolver as universidades na elaboração pode qualificar o teste e abrir portas para outras parcerias”, completou o reitor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

NOTAS PÚBLICAS – Além do debate sobre o Enem, os reitores anunciaram a publicação de duas notas da Andifes durante a reunião desta quinta-feira. Uma sobre o orçamento das universidades em 2011 e outra sobre a criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). “Há preocupações sobre possíveis cortes no financiamento e a contratação de professores substitutos para o Reuni”, contou o reitor em exercício da Universidade de Brasília, professor João Batista de Sousa.

A Andifes também quer mais esclarecimentos sobre a MP 520/10, que cria a Ebserh. Segundo dirigentes da entidade, que ainda não construiu consenso sobre a criação da empresa, faltam detalhes a respeito da questão da autonomia das universidades sobre os hospitais, o financiamento e o destino dos atuais funcionários das unidades, caso a criação seja aprovada no Congresso. “Não abrimos mão da autonomia sobre a administração dos hospitais”, afirmou o presidente da Associação, Edward Madureira.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Dormir sobre o lado esquerdo é melhor para digestão

Fonte: folha.uol.com.br 24/02

É melhor para a digestão dormir sobre o lado esquerdo e melhor para o coração dormir sobre o lado direito? Existem algumas evidências de que a posição de dormir pode estar relacionada à função cardíaca, embora um problema cardíaco existente possa resultar em evitar dormir sobre o lado esquerdo. Quanto à digestão, pelo menos um estudo descobriu que o refluxo gastroesofágico pode aumentar quando dormimos sobre o lado direito.

Num estudo de 2003 publicado no "Journal of the American College of Cardiology, participantes com falha congestiva do coração tiveram "uma tendência significativamente maior de evitar dormir sobre o lado esquerdo'', enquanto participantes sem a condição não tiveram. Os autores do estudo também descobriram que evitar dormir sobre o lado esquerdo estava relacionado ao grau de aumento e disfunção do coração.

As descobertas condizem com a ideia de que a posição de dormir do lado esquerdo ''pode ter efeitos prejudiciais" sobre a pressão cardíaca, bombeamento cardíaco ou funcionamento de nervos cardíacos. Portanto, "pode ser uma estratégia de proteção'', segundo pesquisadores. Eles acrescentaram que a escolha da posição pode derivar de desconforto ao perceber batimentos cardíacos mais fortes.

Um estudo sobre o refluxo digestivo publicado em 1994 no ''Journal of Clinical Gastroenterology'' descobriu que a quantidade total de tempo de refluxo era significativamente maior quando se dormia sobre o lado direito, embora o número de episódios não tenha sido significativamente maior.

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Ministérios estudam idade mínima para aposentadoria

Fonte: folha.uol.com.br 25/02

Trabalhador do setor privado só teria benefício aos 65 (homens) e 60 (mulheres)

Estudo é discutido por Fazenda e Previdência e será enviado a Dilma em março; regra atingiria os novos trabalhadores

O governo federal estuda a adoção de idade mínima para concessão de aposentadoria integral a trabalhadores do setor privado.
A proposta está em discussão nos ministérios da Fazenda e da Previdência e deve ser apresentada à presidente Dilma Rousseff em março.
Segundo a Folha apurou, a proposta mais forte hoje é 65 anos de idade para homens e 60 para mulheres, no caso dos segurados do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), que atende aos trabalhadores do setor privado.
A mudança valeria apenas para quem ainda não entrou no mercado de trabalho.
Pelas discussões, a ideia é substituir, no futuro, o atual fator previdenciário -fórmula de cálculo do valor do benefício para desencorajar aposentadorias precoces, adotado a partir de 1999.
O fim do fator é uma demanda das centrais sindicais e tem apoio de alas petistas. Mas, como não há hoje idade mínima para aposentadorias em valor integral no setor privado, o Executivo alega não poder abrir mão de um instrumento que evite ampliação do deficit previdenciário.
Em 2010, a despesa com o INSS chegou perto de 7% do PIB e a 36% dos gastos da União, excluindo da conta os encargos da dívida pública.
O Palácio do Planalto foi informado sobre a elaboração da proposta e não desautorizou o debate. Segundo alguns interlocutores da presidente, Dilma irá fazer um cálculo político para decidir se leva o tema adiante.
O assunto é polêmico. Como a mudança seria somente para futuros trabalhadores, ministros argumentam que o embate seria menos amargo do que uma iniciativa que mexa em direitos atuais.
Na campanha eleitoral, a então candidata disse que não tocaria uma reforma da Previdência. Se patrocinar a medida, pode encontrar pela frente forte resistência das centrais, com as quais já se atritou na definição do salário mínimo de R$ 545.
"Acho que dá para discutir, mas a presidente não pode querer fazer imposições. Sem negociar, haverá confusão", disse àFolha o deputado Paulo Pereira da Silva, da Força Sindical.
Apesar de uma certa simpatia à causa, há na Esplanada quem aconselhe a presidente a não comprar brigas que não tragam dividendos políticos ou ganhos orçamentários imediatos.
Outros afirmam que o momento para mudanças é exatamente agora, no embalo do primeiro ano de mandato. A votação seria um teste real à governabilidade dilmista, e significa um obstáculo muito maior do que a votação do salário mínimo, aprovado com tranquilidade no Congresso.
Internamente, já se considera uma moeda de troca para conquistar a simpatia do mundo sindical à proposta da idade mínima: flexibilizar o fator previdenciário e estabelecer uma transição menos rígida até que a idade mínima entre em vigor.
O Planalto resgataria na Câmara o projeto do fator 85-95, que prevê o benefício integral aos trabalhadores cuja soma da idade e do tempo de contribuição resulte em 85 (mulheres) e 95 (homens). Exemplo: um homem com 35 anos de contribuição e 60 de idade obteria o direito à aposentadoria integral.
A instituição de uma idade mínima elevaria o prazo de contribuição ao regime geral da Previdência em 12 anos -hoje, um trabalhador pode requerer aposentadoria proporcional por tempo de contribuição aos 53 anos.
É provável, porém, que seja preciso preservar um mecanismo para a aposentadoria por tempo de contribuição, especialmente para os mais pobres, que ingressam mais cedo no mercado.

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Músicos acusam Sinfônica Brasileira de assédio moral

Fonte: folha.uol.com.br 25/02


Instrumentistas boicotam avaliações marcadas pelo diretor, Roberto Minczuk, e Fundação fala em demissões

Comissão de músicos acusa direção da OSB de rasgar estatuto da Fundação e ter postura autoritária

Os músicos da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB) pretendem processar a direção da Fundação OSB por assédio moral.
A acusação se baseia em um documento "bastante duro", segundo os músicos, recebido após a decisão do grupo de não comparecer a avaliações técnicas marcadas pelo maestro e diretor técnico Roberto Minczuk.
Nele, a direção da OSB afirma que a ausência no teste pode causar rompimento do contrato de trabalho. Apresenta ainda um programa de demissão voluntária.
Em janeiro, os 82 integrantes da orquestra receberam um comunicado informando que em 60 dias seriam avaliados internamente, fato inédito na história da orquestra.
A realização de testes internos é rara e acontece em momentos de reformulação profunda de uma orquestra, a exemplo da reforma da Osesp, feita por John Nes- chling em 1997.
Em reunião no Sindicato dos Músicos do Estado do Rio, da qual participaram 58 dos 82 músicos, 56 decidiram não participar do teste. Eles afirmam não ser possível avaliá-los com base em um desempenho de 30 minutos.
"Discordamos do modo autoritário como a administração nos trata, rasgando o estatuto da Fundação", disse Luzer Machtyngier, presidente da comissão de músicos da OSB.

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PASQUALE CIPRO NETO

"A mim me deste a suprema pobreza"

Fonte: folha.uol.com.br 24/02

O reforço da forma "a mim" pela equivalente "me" confere à afirmação tom de inexorabilidade absoluta


O TEXTO DA SEMANA passada mexeu com muita gente. Foram inúmeras as mensagens, muitas das quais de leitores que só conheceram Taiguara depois de 1996, isto é, depois da morte do grande compositor.
Boa parte dos que escreveram seguiu a minha sugestão -entrar no site de Vinicius de Moraes e ler o antológico texto "Elegia na Morte de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, Poeta e Cidadão". Choro e emoção marcaram a reação de muitos dos leitores. Alguns disseram que não conseguiram chegar ao fim da obra; outros me pediram comentários e explicações sobre algumas passagens do grande texto de Vinicius.
Vamos, pois, a algumas passagens da "Elegia", começando justamente por essa palavra, que costuma nomear poemas líricos de tom terno e triste, melancólico. Escrita na segunda pessoa do singular (é com essa forma de tratamento que o poeta se dirige ao pai), a elegia de Vinicius apresenta predominantemente a linguagem formal, com algumas passagens que exigem bom domínio do vocabulário e/ou da estrutura desse tipo de linguagem.
Veja estes versos, do início do poema: "(...) Fragmentos da infância / Boiaram do mar de minhas lágrimas. / Vi-me eu menino / Correndo ao teu encontro. Na ilha noturna / Tinham-se apenas acendido os lampiões a gás, e a clarineta / De Augusto procrastinava a tarde". Que significa "apenas" nesse trecho do texto? Será sinônimo de "só", "somente", "exclusivamente"?
Não, caro leitor. "Apenas" aí indica processo que acabou de concluir-se. A passagem significa algo como "Nem bem tinham-se acendido os lampiões a gás" ou "Os lampiões a gás mal tinham-se acendido". Na informalidade, não é comum o emprego de "apenas" com esse sentido. E qual é o significado de "procrastinava"? Trata-se de uma flexão do verbo "procrastinar", que significa "delongar", "adiar", "postergar".
Mas o melhor da passagem toda não são essas escolhas lexicais do poeta; é a bela metáfora de "Fragmentos de infância boiaram do mar de minhas lágrimas". Essa metáfora é daquelas que o memorável protagonista de "O Carteiro e o Poeta" assinaria sem pestanejar. Vivido pelo extraordinário e saudoso ator italiano Massimo Troisi, o carteiro Mario Ruoppolo aprende o que é uma metáfora com ninguém menos do que Pablo Neruda (magistralmente vivido por Philippe Noiret).
Vinicius e Neruda, é bom que se diga, foram amigos, ambos diplomatas e poetas, amigos poetas, poetas amigos. Pode-se dizer, sem medo de errar, que exerceram franciscanamente a poesia, no mais puro sentido do que diz Vinicius nestoutra passagem da memorável "Elegia" que dedica ao pai: "Deste-nos pobreza e amor. A mim me deste / A suprema pobreza: o dom da poesia, e a capacidade de amar / Em silêncio". Que maravilha a transformação em concreto do abstrato "pobreza" como complemento do verbo "dar"! E que maravilha o inesperado par "pobreza e amor"!
Destaque-se também o barroco e belo emprego enfático da forma pleonástica "a mim me" em "A mim me deste a suprema pobreza: o dom da poesia". Quem foi que disse que pleonasmo é necessariamente sinônimo de obviedade ou redundância? Comum na poesia barroca (leiam-se os monumentais textos de Vieira), o reforço da forma tônica "a mim" pela equivalente átona "me" confere tom de inexorabilidade absoluta à pungente afirmação. É isso.