sábado, 10 de setembro de 2011

TC Cult retoma qualidade com dois filmes de Charles Chaplin Fonte: folha 10/09

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Não é para falar mal, mas o Telecine Cult anda com a programação meio desleixada, meio desigual.

Basta chegar um filme europeu ou asiático que vai parar lá, haja ou não motivo.

E mesmo a programação americana, aquela que chega meio que de mão beijada, também está bem desigual.

Nisso a gente podia pensar até que o canal levantou a cabeça e programou dois filmes de arromba do ator Charlie Chaplin: "O Circo" (20h30, livre) e "Monsieur Verdoux" (22h, livre).

O primeiro é mudo. É Carlitos em um momento alto, num de seus melhores longas. O segundo é sonoro, Chaplin já havia dado um fim a seu tipo mais célebre.

Verdoux é, digamos assim para resumir, um doce assassino. Um homem que mata, mas não perde o senso da responsabilidade e do amor familiar. Um personagem de certo modo bem do pós-Guerra (de 1947).

E o melhor é que na semana que vem vai ter mais Charles Chaplin.

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Livro reúne contos do jovem Guimarães Rosa Fonte: folha 10/09

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Aos 21 anos, Guimarães Rosa se parecia mais com Edgar Allan Poe do que consigo mesmo. É o que o leitor vai descobrir ao ler "Antes das Primeiras Estórias", que a Nova Fronteira lança agora.

A antologia reúne quatro contos que o então jovem médico mineiro, vencedor de concursos para estreantes, publicou em "O Cruzeiro" e "O Jornal" entre 1929 e 1930.

Em suas narrativas de fantasia, mistério e certo romantismo, há personagens que se chamam Francis, Elphin e Mabel e vivem em lugares como Highmore Hall.

Só mais tarde o autor descobriria o sertão e inventaria o estilo com que se consagrou. A primeira obra, "Sagarana", sairia quase duas décadas depois.

De parecido com o Rosa da maturidade, o leitor notará que o jovem escritor já se mostra inventivo e com um certo gosto por um vocabulário inequívoco.

"Antes das Primeiras Estórias" é o primeiro de uma série de volumes inéditos que pretende publicar a Nova Fronteira, casa editorial do autor desde a década de 1980.

A existência desses contos não era desconhecida. É a primeira vez, porém, que são publicados em livro.

Entre os volumes previstos, um deles terá uma seleção dos cadernos "Boiada", escritos no começo da década de 1950, parte de suas anotações para fazer "Grande Sertão: Veredas".

A Nova Fronteira quer lançar também antologias com escritos de viagens e textos críticos que Rosa fez sobre outros autores.

O curioso é notar que, se destoava dos leitores que apreciavam os modernistas da época, o jovem Guimarães Rosa pode agradar hoje aos leitores de Harry Potter.

ANTES DAS PRIMEIRAS ESTÓRIAS

AUTOR João Guimarães Rosa

EDITORA Nova Fronteira

QUANTO R$ 29,90 (96 págs.)

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MÚSICA » A canção nua e perfumada

José Miguel Wisnik lança o álbum duplo Indivisível, em que passeia livremente por múltiplos gêneros da canção, numa mirada tropicalista perpassada por sutil ironia. Fonte: correioweb 10/09

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José Miguel Wisnik tem o perfil daquele imaginário jogador de futebol que atua em todas as posições, cruza da linha de fundo e chega na área a tempo de dar uma cabeçada na bola na direção do gol adversário. É instrumentista (estuda piano desde os 7 anos e tocou em orquestra sinfônica), compositor, cantor, letrista, professor de literatura, autor de trilhas sonoras para peças de teatro, ensaísta e ex-jogador de futebol. Se Nelson Rodrigues estivesse vivo, certamente escreveria: “Enfim, um ensaísta que sabe cobrar um escanteio”. Ele acaba de lançar um álbum duplo, intitulado Indivisível em que assume a persona de Zé Miguel Wisnik. Queria que o nome desse a pista de que se trata de um autor de canções de música popular, mas confessa que se arrependeu, pois a brincadeira pode provocar confusão: “Se você procura no Google, vai encontrar José Miguel e não Zé Miguel”, pondera Wisnik, bem-humorado.

Wisnik entrou para a faculdade, na virada da década de 1960, sem saber direito como conciliar os projetos de ser escritor e músico. A Tropicália, de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e Cia., trouxe a resposta, mixando popular, erudito, poesia, artes plásticas, teatro e performance. Zé Miguel leva toda essa mistura para dentro do disco Indivisível, cantando marchinhas, valsas, sambas, temas eruditos adaptados para a canção popular, modas de viola e versões musicais de poemas, sempre perpassados por um olhar oblíquo e dissimulado de ironia, típico da Tropicália: “Acho que o tropicalismo foi muito importante em minha formação em um momento de implosão dos gêneros e das fronteiras. No meu caso, isso já é conquistado. A gente internalizou o direito de habitar os múltiplos campos da canção sem promover separações. No disco anterior, Pérolas aos poucos, isso era mais evidente. Mas, em Indivisível, a mistura e a variedade estão mais decantadas. O disco passa por muitos gêneros, mas tem uma unidade de som, lirismo e ironias sutis que faz com que haja uma fluência entre todos esses registros. Neste sentido, também, ele é indivisível”.

Um exemplo da ironia sutil é Tristezas do Zé, parceria com Luis Tatit, uma canção melancólica, mas temperada pelo senso de humor: “Tudo que é melancolia/Dizem que fui eu que fiz/É só chorar/Em Palmas, Teresina ou Jequié/Já vão avisar/que a origem é a tristeza lá do Zé”. A canção brinca com o clássico Tristezas do Jeca: “Fiquei muito feliz porque você pode rir de sua tristeza. O Jeca descobriu que a tristeza é um filão de sucesso. Por outro lado, é sobre a tristeza de todos e de ninguém”. No samba Sócrates brasileiro, ele homenageia o “pique filosófico” do ex-craque do Corinthians e da Seleção Brasileira.

Tom intimista

Todas as faixas do disco são vazadas em um tom intimista, em arranjos econômicos, quase sempre com Wisnik ao piano e Arthur Nestrovski ao violão. É como se tudo passasse por um filtro de Bossa Nova. Foi uma opção deliberada por apresentar as canções expostas, sem adereços, nuas: “Os arranjos vestem as canções, elas ganham corpo. Mas, nesse disco, eu quis privilegiar a palavra cantada. Só permiti a entrada de um instrumento se a canção estivesse pedindo. Mas não é nenhum programa estético. Já me dá vontade de fazer uma outra coisa no próximo disco. A própria trilha sonora para o Grupo Corpo tem 200 canais em cada faixa”.

No disco, Wisnik apresenta parcerias com um time respeitável: Chico Buarque (a canção Embebedado), Jorge Mautner (a marchinha Tempo sem tempo), Guinga (o samba-canção Ilusão real), Marcelo Jeneci (O primeiro fole) e Luis Tatit (a moda de viola Tristezas do Zé). Além disso, musicou cinco poemas: Medo, de Carlos Drummond de Andrade; Mortal loucura, de Gregório de Matos Guerra; Os ilheus, de Antonio Cícero; Dois em um, de Alice Ruiz; e Tenho dó das estrelas, de Fernando Pessoa.

Mesmo quem conhece os poemas pode ter uma sensação de estranhamento e da incidência de uma nova luz sobre os textos. O trabalho é resultado da ligação de toda uma vida com a literatura: “Desde os 18 anos sou professor de literatura e a canção é poesia cantada. É verdade que há diferenças de fato entre a palavra falada e a cantada. Mas eu só musiquei os poemas se eles pedissem música. Existem grandes poemas que não pedem nem querem ser musicados. É preciso que haja uma musicalidade latente para a entoação da palavra”.

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Droga para diabetes não é indicada contra obesidade, diz Anvisa

Alerta da vigilância é dirigido ao uso do remédio Victoza, injetável, que vem sendo receitado para perda de peso

Substância similar a hormônio age no hipotálamo e no estômago, dando sensação de saciedade Fonte: folha 10/09

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A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) emitiu um alerta em que contraindica o uso do remédio Victoza (liraglutida), aprovado no tratamento do diabetes tipo 2, para emagrecimento.

"O uso para outra finalidade que não seja como antidiabético caracteriza elevado risco sanitário para a saúde da população", disse o diretor-presidente da agência, Dirceu Barbano, em nota. Médicos têm relatado o aumento do uso como emagrecedor.

A reportagem da Folha procurou o medicamento ontem nas principais redes de farmácias em São Paulo. Em três que já trabalham com o Victoza, a resposta foi a mesma: a droga está em falta, por causa da procura. As injeções custam até R$ 500 por mês.

A substância atua no cérebro, reduzindo a fome. Age também no trato digestivo, retardando o esvaziamento do estômago e a movimentação da comida nele (o que aumenta a saciedade). Entre os diabéticos, a perda de peso em pesquisas foi de 7 kg.

A Anvisa diz que, mesmo quando é usado no diabetes, o remédio pode causar efeitos colaterais imprevisíveis.

Os principais relatados até agora são hipoglicemia, dores de cabeça, náusea e diarreia. Também há risco de pancreatite, desidratação, alteração da função renal e distúrbios da tireoide.

Outra questão de risco associado a produtos biológicos, como é o Victoza, são reações imunológicas, que podem variar desde alergia até efeitos mais graves.

'PERIGOSO'

A Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica) considera "perigoso" o uso indevido do Victoza.

"O remédio não deve ser prescrito para o tratamento de obesidade em não diabéticos até que os estudos específicos sejam encerrados", diz Rosana Radominski, presidente da Abeso.

Ela diz que está ocorrendo uma corrida de pacientes aos consultórios médicos.

"Isso já ocorreu com o rimonabanto (Acomplia). Temos de ter um pouco mais de bom senso", diz Radominski. O rimonabanto, que ficou conhecido como "pílula antibarriga", foi retirado do mercado em 2008 por causar problemas psiquiátricos.

Remédios como o Victoza, análogos do hormônio GLP-1, produzido no intestino delgado, são considerados a principal promessa no tratamento da obesidade.

O endocrinologista Alfredo Halpern afirma que está receitando o remédio para alguns de seus pacientes, com bons resultados.

"Não é a primeira opção de tratamento, mas é uma alternativa para quem não pode usar os outros remédios para emagrecer [anorexígenos], por alguma contraindicação. Ele não funciona para todo mundo, mas 80% dos pacientes têm alguma resposta."

Para o endocrinologista Walmir Coutinho, há questões importantes que precisam ser esclarecidas antes da liberação do uso do medicamento para não diabéticos. "Sabemos que a dose precisa ser maior para eles. Com isso, podem aumentar os efeitos colaterais."

Coutinho lembra que, se a Anvisa retirar os medicamentos para obesidade do mercado (como a sibutramina), a procura por esse tipo de remédio vai crescer. "Não há milagre. Nenhuma droga serve para todos."

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Livro ilumina o pensamento selvagem de Schopenhauer

Rüdiger Safranski apresenta o pessimismo brilhante do filósofo alemão Fonte: folha 10/09

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O céu está vazio. E a Terra nunca foi beijada.

Não, não se trata de palavras de um poeta. Mas nem por isso são palavras menos românticas como desespero ou menos selvagens como constatação do lugar da Terra no Universo.

São palavras próximas ao que disse o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), que, sim, viveu no auge do romantismo, e que, sim, era um desesperado.

E talvez, mais do que tudo, foi um selvagem na forma de abraçar a filosofia e recusar tudo que ele achava mentira.

Um dos pessimistas mais brilhantes que já caminhou pela Terra. Esta Terra abandonada que nunca foi beijada por nenhum céu.

Dar a conhecer a vida e o pensamento de Schopenhauer é a intenção do livro de Rüdiger Safranski, "Arthur Schopenhauer e os Anos mais Selvagens da Filosofia", da Geração Editorial.

Safranski já fez biografias de outros gigantes da filosofia alemã, como Nietzsche (1844-1900) e Heidegger (1889-1976).

Não se trata de um livro para uso de acadêmicos ou especialistas, mas nem por isso deixa de ter uma boa utilidade para estudiosos do pensamento do maior pessimista da filosofia alemã.

Partindo do contexto em que viveu Schopenhauer, o autor ilumina a filosofia alemã de então, a vida universitária (e o horror que o filósofo tinha pelas suas baixarias políticas e sua hipocrisia institucional, como, aliás, permanece até hoje), assim como fatos históricos "fora" do mundo da filosofia.

Safranski dialoga também com o que seria a "vida psicológica" do filósofo autor de "O Mundo como Vontade e Representação", sua maior obra.

Schopenhauer teria sido um melancólico genial. Sorte dos melancólicos que são geniais e não apenas vegetam sob a bota de remédios e do consumo em busca de uma felicidade impossível.

METAFÍSICA

Safranski narra o período entre o final do século 18 e o início do século 19 como sendo uma fase de "destruição da metafísica" e surgimento de uma filosofia que investe em alguma forma de um grande "Eu", de gente como Hegel (1770-1831), Fichte (1762-1814), entre outros (gente da qual Schopenhauer não gostava muito).

Os especialistas chamam esse período da filosofia alemã de Idealismo.

Safranski gosta de descrevê-lo como os anos mais selvagens da filosofia porque se produziu toda uma gama de sistemas filosóficos, segundo ele, munidos da intenção de fazer o homem se ver como criador de tudo.

O pessimista alemão teria sido aquele que, como precursor de Sigmund Freud (1856-1939), dinamita esta fé do homem em si mesmo e no "novo otimismo" que surgiu no mundo pós-Revolução Francesa.

Schopenhauer humilha esse novo homem cosmicamente quando diz que a Terra vaga sozinha pelo Universo carregando seu "fungo", a vida; biologicamente, quando diz que o homem é uma espécie que pensa porque é mal adaptada ao mundo em que vive (e o pensamento é inútil e vítima de uma vontade ou natureza louca e desvairada que manda nele).

Finalmente, humilha psicologicamente quando revela que o "Eu" não manda em sua própria casa.

Excelente obra para melhorar a formação filosófica dos psicanalistas freudianos.

SCHOPENHAUER E OS ANOS MAIS SELVAGENS DA FILOSOFIA

AUTOR Rüdiger Safranski

EDITORA Geração Editorial

TRADUÇÃO William Lagos

QUANTO R$ 69,90 (688 págs.)

AVALIAÇÃO bom

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A década escrita Fonte: folha 10/09

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Depois de uma década de livros sobre o 11 de Setembro, ainda há o que publicar? Essa é a pergunta feita nos últimos dias por suplementos literários, sites e publicações ligados ao mercado de livros. Poucos dias depois da tragédia, os primeiros títulos já eram contratados nos EUA e em todo o mundo. Livros sobre luto, terrorismo e mundo islâmico se multiplicaram. Entre os títulos que chegaram por aqui, há alguns dos mais importantes, como "Deixe o Grande Mundo Girar", de Colum McCann, premiado entre os de ficção, e "O Vulto das Torres", de Lawrence Wright, de não ficção.

//A tragédia revista

Entre reedições e novidades no mercado americano, há "The Black Banners", as memórias de Ali H. Soufan, agente do FBI aposentado. Sai também uma reedição ampliada do grande relatório da comissão sobre o 11 de Setembro, assinado por um dos seus membros, Philip Zelikow. Sobre a tragédia, revistas literárias como "Granta" e suplementos como o do "Guardian" publicam textos de autores de várias nacionalidades.

"Era o primeiro ano da Guerra do Iraque e um agente de segurança top de linha me disse que, além de Bush, era eu quem mais corria risco na América"

MICHAEL MOORE

cineasta, no livro "Here Comes Trouble", que sai na próxima segunda-feira

//O peso dos clássicos

No palco do Itaú Cultural, na quarta, escritores discutiam se a ficção brasileira atual recua para o realismo do século 19. Por que os livros elogiados se parecem com o que Tolstói escrevia? "Tolstói não era realista", disse, levemente contrariado, Rubens Figueiredo, escritor que traduz os russos. "Ninguém aqui está falando mal de Tolstói, Rubens. E quando sai sua tradução de 'Guerra e Paz'?", cobrou João Silvério Trevisan. "A propósito", pediu a palavra Nelson de Oliveira, "quero lhe sugerir que traduza também o romance dos irmãos Arkadi & Boris Strugatski". Com o peso dos clássicos, Rubens pôs a mão na cabeça, se encolheu e fez rir a plateia. Depois de mais de cinco anos de espera, "Guerra e Paz" está previsto para novembro pela Cosac Naify.

//Emergentes

"The Growth Map" é o novo livro de Jim O'Neill, "chairman" do Goldman Sachs Asset Management que criou há dez anos a expressão "Brics" para designar economias emergentes. O'Neill explica agora quais são as "próximas 11": Bangladesh, Egito, Indonésia, Irã, México, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Coreia do Sul, Turquia e Vietnã. A obra sai em 5 de dezembro pela Penguin.

//E-books com trilha sonora

E-books com trilhas: esse é o negócio da Booktrack, empresa britânica recém criada que incluiu música, efeitos especiais e som ambiente em meia dúzia de títulos já disponíveis. Um deles, com aventuras de Sherlock Holmes, de Conan Doyle, tem barulho de chuva, trovões e gritos. A sair, há "Alice", de Lewis Carroll, e "Huckleberry Finn", de Mark Twain. A Booktrack é de Peter Thiel, um dos chefões do Facebook e cofundador da PayPal, empresa de pagamentos on-line.

José Medeiros - "Chroniques Brésiliennes" é o álbum com mais de 200 imagens do fotógrafo José Medeiros que sai na França numa parceria entre o Instituto Moreira Sales e a Hazan (do grupo editorial Hachette).

Exposição em Paris - A edição coincide com a abertura, no dia 13, da exposição de mesmo nome na Maison de l'Amérique Latine, em Paris.

Xingu e Rio - No livro há um bloco com a pesquisa do fotógrafo pelo Brasil: a série dos índios do Xingu, a do Candomblé. Em outro bloco há somente o Rio, com fotos de bailes e festas feitas entre os anos 1940 e 1960.

Gautherot - Ano passado, o livro "Marcel Gautherot - Brasília", do IMS, foi publicado pela Thames & Hudson nos EUA e Inglaterra.

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Ao largo da crise no Turismo

Em meio às denúncias em ministério, presidente da Embratur aponta os megaeventos como uma chance de reposicionar a imagem do país Fonte: correioweb 10/09

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Com a imagem do turismo brasileiro desgastada em duas frentes, o presidente da Embratur, Flávio Dino, trabalha dobrado. Primeiro, tenta por meio de uma auditoria em todos em convênios e mudança de procedimentos, tirar a pecha de uma área corrupta do ponto de vista administrativo. Em segundo lugar, acabar com a ideia de que o país aceita o turismo sexual. Ele esteve inclusive com o ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, para pedir à Polícia Federal que passe a monitorar as empresas promotoras desse tipo de turismo, disfarçado de aventura ecológica ou pescaria, como ocorreu recentemente no Amazonas. “Isso é crime e crime é com a polícia. Nossa propaganda não fala mais na beleza do nosso povo”, afirma.

Nesta entrevista ao Correio, ele conta que está empenhado em buscar o que considera sua principal missão: convencer a sociedade brasileira de que a maior batalha da Copa é a da imagem que o país deixará ao mundo. “Temos hoje a imagem de um país festeiro e acolhedor. Se conseguirmos agregar a isso a imagem de eficiência e competência, estaremos cumprindo o maior legado da Copa para a nossa e para, pelo menos, duas gerações. Essa é a nossa batalha”, diz. A seguir os principais pontos da entrevista.

A operação da PF no Ministério do Turismo e as denúncias afetaram também o trabalho da Embratur?

Não houve nada relacionado à Embratur. Evidente que houve um questionamento do modelo e a minha preocupação principal nesse momento é mostrar que uma coisa são as irregularidades que devem ser apuradas, investigadas e combatidas, sobretudo nessas parcerias público-privadas. Outra coisa é o modelo da política pública de turismo. Se tem coisas erradas, devem ser corrigidas. Portanto, determinei uma auditoria aqui na Embratur para apuração. Isso está em curso e termina em 30 dias. O que a gente precisa aperfeiçoar? Primeiro, como essas entidades são selecionadas. Baixei uma portaria para que sejam selecionadas exclusivamente por chamamento público, que é uma espécie de licitação com outro nome, porque o aspecto fundamental é o mesmo: a publicidade e um critério objetivo de seleção para fazer convênios.

No caso da Operação Voucher ficou muito claro que há um novo modelo de fraude baseado em ONGs, que não são mais fantasmas, têm sede e são regularizadas, mas fraudam os contratos.

Por isso, falei de duas coisas que precisam ser melhor reguladas. Uma é a seleção. A segunda é justamente essa: acompanhamento, monitoramento e controle. As fraudes estão em dois âmbitos: na má seleção, de entidades que não têm capacidade de executar o convênio ou, às vezes, nem existem mesmo; e está também nessa necessidade de haver uma prestação de contas mais aperfeiçoada.

O senhor tem braços para isso? O que mais se ouve nos ministérios é que não há gente para controle, para fiscalização…

É um fato. Pedi a colaboração da CGU (Controladoria-Geral da União) e, ao mesmo tempo, estou num movimento no governo para que haja nomeação dos nossos funcionários para recompor as equipes. Temos um concurso já homologado para 84 pessoas. Em termos de servidores efetivos isso vai triplicar o contingente atual da Embratur, uma vez que temos só 40 concursados.

O chamamento público não esbarra ainda nas emendas parlamentares, que já vêm voltadas para determinados institutos, como foi o caso da emenda da deputada Fátima Pelaes?

O Poder Executivo não é obrigado a seguir essa indicação. Qual é a prerrogativa do parlamentar? Alocar o recurso para uma determinada ação ou programa, vinculado a um estado. Disso, o Poder Executivo não pode fugir. Mas ele não é obrigado a dizer se quem vai executar é a entidade x ou y, ou seja, não há incompatibilidade entre emenda parlamentar e chamamento público.

Isso pode causar uma certa indignação dos parlamentares que direcionam as suas emendas?

Acredito que não. É mais uma questão de conversar. A função principal das emendas, que deve ser preservada, é garantir uma alocação de recursos mais democrática, levando em conta a grandeza do Brasil, a sua pluralidade. O que fugir disso, o que visar exatamente a realização de um negócio ilegal, obviamente deve ser combatido por todos, inclusive pelo parlamento.

Qual o orçamento que o senhor tem para tocar esses projetos?

Nas atividades fins da Embratur, temos R$ 180 milhões, de promoção internacional, que é dividida em três mercados: o europeu, o latino-americano e o norte-americano. Há uma rubrica nova, outros mercados, como Oriente Médio e Ásia. Mas as ações principais são concentradas nos três primeiros.

Como está o combate ao turismo sexual no Brasil?

Temos uma distinção: consideramos que sequer isso pode ser classificado como turismo. Isso é crime e, portanto, o nosso tratamento deve ser levando em conta esse conceito. Como não é turismo, é crime, logo, é um assunto de repressão. Da nossa parte, há uma preocupação de dissociar o Brasil dessa imagem, de destino de exploração de mulheres, crianças e adolescentes. Nossa propaganda hoje não tem qualquer tipo de conotação e de apelo para essa dimensão, da beleza do nosso povo.

O senhor tem conversado com o ministro da Justiça ou a ministra Maria do Rosário sobre esse assunto?

Almocei essa semana com o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça). Um dos assuntos foi esse. A Polícia Federal terá orientação específica para monitoramento de empresas brasileiras que atuam nesse setor. No caso da Embratur, o que é crime encaminhamos para a Polícia. Na parte de promoção, deixamos claro que o Brasil não é um destino amigável para esse tipo de conduta.

Por que é tão difícil combater essa ideia e esse crime?

Durante muito tempo, era essa a imagem do Brasil no mundo, de o país da festa, do congraçamento sem fronteiras. A gente lida com a imagem dos outros sobre o Brasil. Os megaeventos são importantes em si mesmos, porque geram empregos e renda. O mais importante é qual a imagem que ficará do Brasil depois dos megaeventos? Nós, Embratur, imaginamos que o nosso objetivo é consolidar essas marcas que o país já conhece, de natureza exuberante, de um povo cordial, amável. Mas, sobretudo, um país eficiente, moderno, competente e realizador. Só durante a Copa, de telespectadores acumulados, serão 26 bilhões de pessoas durante os 30 dias do evento. Com efeito internet, rádio, TV jornal, se a gente falar de 200 bilhões de notícias sobre o Brasil não é absurdo.

Não há temor sobre um caos aéreo, com atraso nas obras em aeroportos?

Tenho absoluta certeza de que não será o caos. E não só de expectativa, de torcida. É científica. O Brasil faz grandes eventos com grande sucesso. Temos que calibrar as expectativas. O legado de imagem, que está para adiante, é uma disputa que valerá por 20, 30, 40 anos. É essa disputa que tenho enfatizado como a principal e deve ser incorporada por toda a sociedade brasileira.

Há pouco tempo, a Argentina recebia mais turistas que o Brasil. Por que não conseguimos atrair estrangeiros por seus resorts?

Primeiro, a localização geográfica. A teoria mostra que o turismo é intrarregional. Cerca de 80% do turismo europeu é feito por nativos. No Caribe, é movimentado por Estados Unidos e Canadá, grandes emissivos. A América do Sul sempre atravessou turbulência política, dificuldades econômicas e uma péssima distribuição de riqueza. Além disso, há as barreiras naturais: A Floreta Amazônica e a Cordilheira dos Andes. Ou seja, o turismo intrarregional na América do Sul nunca foi muito forte. O relatório da Organização Mundial do Turismo, divulgado ontem, mostra que o continente no qual mais cresceu o turismo no mundo foi a América do Sul. Temos problemas de qualificação, de serviços, de produtos. Tudo isso é um desafio permanente. Em 2011, vamos chegar a 5,5 milhões de turistas estrangeiros e US$ 6,5 bilhões de divisas oriundas do turismo. São os melhores números do Brasil, mas aquém do que exportaremos.

E a questão do visto?

Preocupa muito. É uma barreira burocrática, que o próprio trade turístico norte-americano questiona o Departamento de Estado, tendo em vista a importância do Brasil no mercado de lá. A tendência é: ou eliminar ou facilitar. O visto, além de uma barreira burocrática, é uma barreira econômica, porque é caro, custa US$ 130.

E a questão da segurança pública?

Fazemos uma pesquisa com estrangeiros saindo do Brasil. A segurança não figura entre as cinco maiores preocupações. A primeira reclamação é a sinalização turística. Se olharmos Brasília, capital da República, não tem nem uma placa em inglês. A gente não nota, mas eles notam. A segunda, rodovias. Tem ainda idioma e aeroportos.

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Escola em parceria com a natureza

Projeto Fazendo Eco junta aulas com diversão e informação in loco em nove empreendimentos rurais ao redor de Brasília. Obrigatório por lei no Distrito Federal, o programa não é cumprido pela maioria das escolas públicas Fonte: correioweb 10/09

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Na fazenda Ver de Perto, a cerca de 35km de Luziânia (GO) , tudo parecia diferente para uma turma de crianças habituadas à vida cercada por concreto, em frente à tela da televisão ou do computador. A fazenda é um dos nove empreendimentos do projeto Turismo Rural e Escola Fazendo Eco, cujo objetivo é levar a experiência do campo e a história e vida no cerrado a alunos de escolas públicas e particulares do DF e do Entorno. Na última quinta-feira, alunos do 3ª ao 5ª ano do Centro Municipal de Educação Básica (Cmeb) Maria de Nondas, de Luziânia, fizeram uma visita ao empreendimento Ver de Perto — a primeira de uma escola ao local este ano.

Era uma aula sobre meio ambiente fora do comum. As crianças, com idade entre 9 e 11 anos, caminharam sobre uma pequena trilha descalças e com os olhos vendados. Guiadas por uma corda, elas experimentaram sentir o mundo usando olfato, tato, paladar e audição — nada de olhar durante a trilha, que representava a evolução do homem. Além da vegetação natural, havia areia, água, estátuas, pedras, pedaços de ferro, pneus, pratos, comida, frutas, sinos, doces, livros e pessoas.

O passeio, que durou o dia todo, mistura o aprendizado com brincadeiras e momentos de lazer para os alunos. A fazenda é uma imensa sala de aula ao ar livre. Nas árvores, há placas com informações sobre as características e o nome científico. No passeio à nascente dentro do terreno da fazenda, a professora Maria de Souza Duarte, proprietária do local, explicava: “Nós ensinamos como o cerrado pode ser produtivo, se tiver os cuidados certos”.

O programa é baseado no projeto de classes transplantadas, que funciona há mais de 40 anos na França. “Toda criança francesa passa de 10 a 14 dias num empreendimento rural e aprende de forma lúdica com um conteúdo curricular”, resume Maria, que presenciou as visitas quando morou naquele país, na década de 1970. Cada empreendimento tem um plano pedagógico próprio, de acordo com as características do local. Dentro da proposta de destacar a necessidade de preservar o meio ambiente, são abordados temas assuntos como a história do cerrado e o manuseio de plantas típicas deste bioma, entre outros.

Interesse aumenta

Antes e depois da visita, os professores discorrem, na escola, sobre os temas que serão discutidos durante o passeio. Até agora, o método tem dado certo. “Percebemos mais interesse dos alunos em sala de aula. Até os pais têm interesse em vir quando as crianças contam o que viram na excursão”, conta Ana Lúcia Teodoro, professora do Cmeb Maria de Nondas.

As crianças confirmam as palavras da professora. “Aprendi que a terra é uma coisa especial, que todo mundo tem que respeitar e cuidar das árvores”, disse Brunna Martins Rodrigues, 9 anos. E tudo isso sem deixar de se divertir. “Gostei do trator e de tomar banho de cachoeira. Achei bom ter essa aula aqui”, comemorou Eduardo de Matos Bezerra, da mesma idade.

Parcerias

O Fazendo Eco é um projeto do Sindicato de Turismo Rural e Pedagógico de Brasília (Ruraltur), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e com o Sindicato das Escolas Particulares do Distrito Federal (Sinep-DF). Segundo a presidente do Ruraltur, Maria Inês Ávila, o projeto com as escolas públicas depende de negociações com a Secretaria da Educação. “Eles ainda devem trabalhar a programação do próximo ano para obter o recurso e viabilizar as visitas”, afirma.

Para Maria Duarte, que foi secretária de Cultura em 1995, no governo de Cristovam Buarque, um dos principais empecilhos para a implantação do projeto no DF é a falta de permanência dos secretários no cargo. “Nos últimos 10 anos, houve nove secretários de Educação”, lembra. Segundo ela, o Ruraltur iniciou um novo processo de implementação das classes transplantadas, mas a mudança no comando da Secretaria de Educação atrasou os planos.

As escolas públicas de Luziânia participam do projeto desde 2006, após uma sanção de lei que determina este tipo de atividade. No DF, a Lei nº 3.664/2005 também prevê a implantação de classes transplantadas no sistema de ensino público, para proporcionar o aprendizado no campo e a convivência com o meio rural. De acordo com Maria Duarte, entretanto, o projeto não saiu do papel, “apesar dos muitos entendimentos entre sindicatos e a Secretaria de Educação”. Procurada pelo Correio, a Secretaria de Educação do DF, por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou que os funcionários habilitados a comentar o assunto não estavam presentes. Até o fechamento desta edição, não houve retorno.

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