sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Cinema. Meryl Streep não fará Clarice Lispector Fonte: o popular/GO 02/09

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Casa Civil anuncia PAC do Entorno. O Entorno do Distrito Federal, que engloba 20 municípios goianos, terá seu Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), com ações nos setores de segurança pública, saúde, infraestrutura e transportes. Fonte: o popular/GO 02/09

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LITERATURA. Bienal do Livro homenageia Moacyr Scliar. A mesa dedicada ao escritor acontece hoje, às 17h, no Riocentro (av. Salvador Allende, 6.555; Rio; R$ 12). Scliar, que morreu em fevereiro, aos 73, será relembrado pelo autor Luis Fernando Verissimo, os professores Luís Augusto Fischer e Domício Proença Filho e o editor Luiz Schwarcz. Fonte: o FSP 02/09

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O iconoclasta. Nelson Leirner comemora 50 anos de carreira com documentário e retrospectiva em São Paulo Fonte: o FSP 02/09

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Em 1967, Nelson Leirner mandou um porco empalhado para um salão de arte em Brasília, e o bicho foi aceito pelos críticos como uma obra.

Mais de 40 anos depois, o homem que se consagrou como iconoclasta da arte brasileira, com fama de apontar as bizarrices do meio em obras ácidas e irônicas, abre uma retrospectiva em São Paulo sem o malfadado animal.

Enquanto o porco viaja para Bruxelas, onde será destaque no festival Europalia, deixa na Galeria de Arte do Sesi sua ausência sintomática, ressaltando os trabalhos que o próprio Leirner considera mais palatáveis ao mercado. "Minha obra continua crítica, mas a crítica não funciona mais", diz Leirner à Folha. "Ela foi engolida, a sociedade aprendeu a consumir o artista. Não tem como criticar sendo consumido. Todos nós viramos marca registrada."

No caso, ele sabe que será sempre tachado de "irreverente, irônico e bem humorado". "Mas ninguém pensa que posso estar deprimido, que também tomo remédios todos os dias para dormir."

Apesar da derrota do Corinthians no dia anterior à entrevista, Leirner não parecia triste. Ele está consciente e não esconde essa lucidez.

"Tudo ficou pasteurizado, e eu tento alertar para isso no meu trabalho, como se dissesse: olhe, sinta", diz ele. "Só que nem eu mesmo sinto nada. Arte hoje é fabricada, tem que ter galeria, mercado e produzir, gerenciar, ser um pequeno industrial." Em 1966, Leirner fundou com Wesley Duke Lee e Geraldo de Barros uma galeria alternativa, a Rex, que tentava expor a insensatez programada do mercado de arte. Teve prejuízo retumbante e acabou com um "happening" em que as obras foram doadas a quem passasse pelo espaço.

Agora, o artista conta que divide o que faz entre arte e hobby. Grande obra da mostra que abre na semana que vem, "Hobby" é um conjunto de 3.000 pequenos objetos fabricados por ele em momentos de tédio ou distração, noites vazias em quartos de hotel ou longos voos de avião.

É mais uma estocada no seio da arte, meio que ele mesmo aprendeu a moldar a seu favor nos últimos 50 anos. No próximo dia 12, o Instituto Tomie Ohtake destaca essa experiência mostrando obras de Leirner ao lado de trabalhos de seus ex-alunos, como Leda Catunda, Iran do Espírito Santo e Dora Longo Bahia, todos hoje mais do que consagrados no mundinho.

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Argentina cria taxas para regular exibição de filmes estrangeiros . Medida visa proteger indústria nacional e conter grande volume de blockbusters no país Fonte: o FSP 02/09

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O Instituto Nacional de Cine e Artes Audiovisuales (INCAA), órgão governamental do cinema na Argentina, regulamentou as taxas para a exibição de filmes estrangeiros no país.

A medida visa conter o volume dos lançamentos dos chamados blockbusters que, em tempo de férias, chegam a ocupar até 80% das salas argentinas. Além disso, visa também proteger a produção nacional.

O cinema independente europeu ou o norte-americanos não serão afetados à princípio, pois os lançamentos com menos de 20 cópias devem ficar livres do pagamento das taxas.

Os valores serão calculados por região, de acordo com a proporção do número de telas utilizadas em relação a quantas há em cada local.

No caso de Buenos Aires, principal praça exibidora, por exemplo, filmes que são exibidos em 40 telas devem pagar o valor equivalente a 300 ingressos.

Se o número de telas for 80, a quantia a ser paga sobe para 1.200 entradas. Se forem 161 telas, a taxa será de 12 mil entradas. Nas outras províncias, as cotas são menores.

O texto da resolução do INCAA diz que a medida visa fazer com que as grandes empresas distribuidoras internacionais deixem de "causar sobre o espectador a sensação ou ideia de que não existe nenhuma outra produção audiovisual a observar naquele período de tempo em que seus filmes são exibidos, com uma presença quase monopólica nas telas".

A regulamentação está em sintonia com um projeto mais amplo do governo federal de valorizar o produto nacional colocando travas ou obstáculos ao estrangeiro.

No Brasil, uma política similar a agora adotada pela Argentina foi sugerida pelo Minc em 2004, época em que se estudava a criação da Ancinav (Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual), mas não emplacou. O anteprojeto previa uma taxa de R$ 600 mil para estreias simultâneas em mais de 200 cinemas. Na ocasião, houve uma grita por parte dos exibidores e das filiais brasileiras das distribuidoras norte-americanas.

Na configuração atual da legislação, o principal mecanismo de incentivo ao cinema nacional é a chamada cota de tela -número de dias de exibição obrigatória de filmes brasileiros nas salas comerciais-, fixada por decreto a cada ano. Atualmente cada cinema é obrigado exibir produções brasileiras durante, pelo menos, 28 dias por ano.

O período varia conforme o número de salas do complexo, podendo chegar, no caso de um multiplex com sete telas, a 63 dias.

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CINEMA . Produção fica acima da média das comédias nacionais atuais

"O Homem do Futuro" é filho de "Redentor" (2004) com "A Mulher Invisível" (2009) -os três realizados por Claudio Torres. Fonte: o FSP 02/09

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De "A Mulher Invisível", o novo filme herda a ideia de brincar com uma situação clássica do cinema fantástico dentro da estrutura da comédia romântica: ali um ser que não pode ser visto por outros; aqui um homem que viaja no tempo.

Em "O Homem do Futuro", o solitário cientista Zero (Wagner Moura) cria uma máquina que o faz voltar 20 anos no tempo, até a noite em que foi humilhado pelo seu grande amor (Alinne Moraes).

Ele terá a chance de corrigir o passado para melhorar o presente, mas perceberá que as implicações são mais complexas do que imaginava.

De "Redentor", vem esse desejo de falar de temas mais "nobres", em geral evitados pelas nossas comédias populares: no antigo filme, corrupção e ética no Brasil; no novo, a questão moral das escolhas individuais.

Ao encontrar o equilíbrio entre diversão e ambição, Torres realiza seu melhor filme até aqui, embora a necessidade de sublinhar muitas vezes o sentido de sua história denote uma falta de confiança no poder de compreensão do público. Ainda assim, "O Homem do Futuro" fica acima da baixa média das nossas comédias recentes voltadas ao grande público -de "Cilada.com" a "De Pernas pro Ar".

Ah, sim: o fato de contar com um ator (Moura) que empresta verdade a três versões do mesmo personagem e que encontra um tom diferente para a interpretação de cada um deles ajuda -e muito.

O HOMEM DO FUTURO

DIREÇÃO Claudio Torres

PRODUÇÃO Brasil, 2011

COM Wagner Moura, Alinne Moraes e Gabriel Braga Nunes

ONDE nos cines Anália Franco, Eldorado Cinemark e circuito

CLASSIFICAÇÃO 12 anos

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Variedade de registros prejudica relato sobre a solidão urbana. O primeiro longa do argentino Gustavo Taretto fala da paradoxal solidão que reina nas grandes cidades, amplificada pelas modalidades de relação social definidas pelas tecnologias de comunicação. Fonte: o FSP 02/09

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Em uma Buenos Aires saturada de gente e de prédios, seguimos a trajetória de dois inadaptados, Martín (Javier Drolas) e Mariana (Pilar López de Ayala). Os dois estão na casa dos 30, são vizinhos, mas não se conhecem.

Javier faz sites e está vencendo a agorafobia, mas ainda é difícil sair de casa. Mariana é arquiteta, mas vive deprimida, pois faz vitrines. Foi abandonada pelo namorado e tem fobia de elevadores.

A narrativa começa bem, com a ideia de que a arquitetura urbana reflete as desordens internas das pessoas. Com belos planos fixos, Taretto figura o caos e o isolamento no meio da multidão.

Mas o filme acaba se perdendo em seus múltiplos registros, oscilando entre a crônica de costumes, a comédia romântica sarcástica e o discurso analítico feito pela voz narradora.

Inscrito na escolha de seguir dois personagens próximos e distantes, o desfecho é previsível e nada acrescenta à neurose coletiva que o filme descreve.

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A importância do CNJ . IVES GANDRA DA SILVA MARTINS Fonte: o FSP 02/09

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O atual movimento que se engendra para enfraquecer as funções do Conselho Nacional de Justiça pode deixá-lo à mercê dos tribunais locais

Quando da discussão da emenda constitucional nº 45/ 2004, antes da formulação do anteprojeto e durante a sua tramitação no Congresso, combati o denominado controle externo da magistratura, em artigos, inclusive para a Folha, e em audiência pública para a qual fui convidado pelo então presidente da Comissão de Constituição e Justiça, senador Bernardo Cabral (PFL-AM).

A emenda constitucional nº 45/ 2004, todavia, não estabeleceu um controle externo da magistratura, mas sim um controle interno mais eficiente (com nove magistrados e com a colaboração de quatro membros da OAB e Ministério Público, e apenas dois representantes do Congresso Nacional).

À evidência, a solução foi inteligente, tendo me colocado, de imediato, a defender tal poder correcional, que poderia agir originária, concorrente e simultaneamente às corregedorias ou conselhos de cada tribunal.

Aliás, o artigo 103-B, parágrafo 4º, inciso III da Constituição declara que a sociedade pode reclamar diretamente ao CNJ "contra membros ou órgãos do Poder Judiciário", neles incluídos serviços auxiliares, e o inciso V, que cabe ao CNJ "rever de ofício ou mediante provocação os processos disciplinares de juízes e membros dos tribunais julgados há mais de um ano".

A experiência dos primeiros anos, sob a presidência dos ministros Nelson Jobim, Ellen Gracie e Gilmar Mendes, foi excelente, agindo o CNJ rigorosamente de acordo com a interpretação que dou aos dois incisos.

Ocorreu, portanto, nos cinco primeiros anos de sua atuação, um desventrar de realidades que o povo desconhecia, demonstrando o CNJ que se, como disse a ministra Ellen Gracie em recente entrevista, o Poder Judiciário é o menos corrupto dos três Poderes, a corrupção também nele existe, com inúmeras condenações, aposentadorias compulsórias e afastamento de magistrados.

Sem saudosismos, estou convencido de que a imagem do Poder Judiciário de hoje não se aproxima àquela do período em que comecei a advogar, quando os magistrados falavam exclusivamente nos autos e eram raros os casos de corrupção.

Mesmo assim, concordo com a ministra Ellen Gracie que é o menos corrupto dos poderes, para isto tendo concorrido o CNJ, nas questões mencionadas, por exercer um trabalho purificador, destacando-se nele, atualmente, a figura severa, mas justa, da ministra Eliana Calmon, corregedora do conselho.

Há em curso, todavia, um movimento para enfraquecer as funções do CNJ, entendendo que o órgão deveria examinar o comportamento ético dos magistrados apenas após pronunciamento de órgãos disciplinadores dos tribunais, o que, de certa forma, desfiguraria a instituição, pois ficaria à mercê dos tribunais locais, exatamente contra cuja inércia foi criado o CNJ. Em outras palavras, a emenda constitucional nº 45/2004 perderia todo o seu significado.

Ou pode o CNJ originária e/ou concorrentemente examinar processos de condutas dos magistrados, ou a sua manutenção perderia sentido.

IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, 76, advogado, professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra, é presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio.

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Uma noite muito louca. Exposição, a ser inaugurada hoje no Museu Nacional, reúne 98 imagens noturnas de Paris, tiradas pelo fotógrafo francês Brassaï Fonte: correioweb 02/09

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Para Brassaï, Paris era um campo de batalha. Sem armas ou barricadas, mas com uma sucessão de imagens que carregavam o mesmo poder de fogo dos disparos. “Paris vive e pulsa”, escreveu o fotógrafo. “(…) os homens pulsam com ela”. Brassaï nasceu na Transilvânia de 1899 e foi batizado Julius Halasz, mas se fez em Paris e retratou para o mundo os anos loucos da cidade-luz nas primeiras duas décadas do século 20. As 98 fotografias de Paris à noite, que a Embaixada da França e a Aliança Francesa inauguram hoje no Museu Nacional, são um extrato pequeno, mas significativo da vida e obra de Brassaï.

Era ao lado de Henry Miller que o fotógrafo perambulava pelas ruas da cidade. A dupla cultivava gostos semelhantes pela boemia e, sobretudo, por tipos estranhos e bizarros. Miller escrevia sobre as experiências. Brassaï as fotografava. O conjunto selecionado pela curadora Agnès de Gouvion Saint-Cyr vai além das imagens mais conhecidas. Uma Paris deserta e insólita predomina sobre os clássicos rostos extravagantes de figuras da noite. A cidade vira cenário fantasmagórico, terreno de caça à luz noturna e paisagens desertas propícias a longas horas de exposição. Nos anos 1920, esse tipo de fotografia era uma empreitada.

Há também algo surreal — e vale lembrar a ligação do fotógrafo com os surrealistas — na maneira como Brassaï encara os cenários. Quando aparecem, os personagens estão imersos em seus afazeres, como se não houvesse lentes por ali. Com certa frequência, emergem do escuro, como se revelados pela câmera. Faróis de carro ou iluminações de postes ajudam o fotógrafo a criar cenas sinistras, como a gárgula da Notre Dame que observa a bruma da noite e as silhuetas iluminadas, provavelmente, por um farol de carro. Era, como Henry Miller gostava de frisar, o olho de Paris: “Bastavam poucas horas ao lado dele para ter a impressão de estar sendo levado para uma grande peneira que guarda um pouco de tudo o que contribui para exaltar a vida”.

Paris à noite

Exposição de fotografias de Brassaï. Visitação até 2 de outubro, de terça a domingo, das 9h às 18h30, no Museu Nacional da República.

para saber mais

Brassaï passou pelo desenho e pelo texto antes de chegar à fotografia. Primeiro, trabalhou como ilustrador para jornais e revistas. Depois, passou a escrever crônicas e, timidamente, fez algumas fotografias para ilustrar as histórias contadas nos textos. O mundo noturno parisiense era o foco, mas não o mundo comportado da burguesia e sim aquele das margens, povoado por prostitutas, transexuais, delinquentes, trabalhadores noturnos, artistas e escritores. Um mundo de palcos exóticos e cafés de freguesia nada convencional. A fotografia, para Brassaï, era uma forma de explorar universos estéticos que ele não conseguia sintetizar na pintura e no desenho. Levou bronca de Picasso por causa da escolha. A fotografia, acreditava o pintor espanhol, obrigava o artista brilhante à abnegação. “Essa submissão me agrada. Tenho o olho, mas não a mão; não se pode mais tocar nos objetos”, tentava explicar o fotógrafo, que também se dedicou à tapeçaria, à escultura e chegou a ganhar um prêmio em Cannes pelo filme Tant qu´il y aura des bêtes (“Enquanto houver bestas”).

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luzes e silhuetas são material rico na mão de Brassaï

Duas perguntas // Agnès de Gouvion Saint-Cyr

Que tipo de leitura a senhora propõe ao mostrar as paisagens noturnas de Brassaï?

Desejava mostrar como a noite transforma a cidade em uma cena quase teatral e a ausência de personagens torna o corpus atemporal. No entanto, as condições para fotografar eram tais (longo tempo de exposição, necessidade de uma luz uniforme) que a presença de personagens (e consequentemente de seus movimentos) corria o risco de tornar a imagem disforme ou ilegível. É então, ao mesmo tempo, uma escolha técnica e conceitual por parte do artista.

O que Brassaï representa para a história da fotografia e para a fotografia francesa?

Estou certa de que Brassaï figura, sem dúvida alguma, como um dos maiores fotógrafos no que diz respeito à qualidade de seu trabalho, à diversidade de suas obras e à incessante inventividade com a qual ele soube trabalhar.

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ARTES CÊNICAS » Teatro em carne viva. Acidente durante espetáculo machuca Aderbal Freire-Filho, mas não o tira de cena. Cia. do Latão impressiona com discussão sobre campo Fonte: correioweb 02/09

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Na segunda semana de programação, o Cena Contemporânea segue com espaços lotados, intensos debates e muita movimentação na Praça do Museu Nacional Honestino Guimarães do Complexo da República. Mas nem tudo segue o traçado previsto nas salas de ensaios. Um dos imprevistos atingiu o ator, dramaturgo e diretor Aderbal Freire-Filho, anteontem, durante a segunda sessão de sua peça Depois do filme.

Nos cinco minutos iniciais do espetáculo, ele caminhava sobre as cadeiras do cenário, quando levou um tombo. Por alguns segundos, a plateia, atônita, não sabia se a cena havia sido programada ou se o ator sofrera um acidente. “Essa é a 50ª sessão. Foram 49 tentativas de suicídio, e a primeira vez que parece que deu certo”, brincou, referindo-se às agruras do personagem Ulisses.

Aderbal se recompôs durante 10 minutos, com a ajuda do público, que cedeu uma garrafinha de água para a compressa improvisada, lencinhos de papel, band- aid e conselhos sobre como tratar o ferimento. “É teatro, Aderbal!”, anunciou Paula de Renoir, curadora do Janeiro de Grandes Espetáculos, dando uma força moral ao ator após a queda. Ele retomou a apresentação, mas a dor visível abalou sua entrega ao papel de Ulisses, em sua escrachada e cômica reflexão sobre a velhice. Depois da sessão, submeteu-se a uma tomografia e constatou que não houve qualquer dano cerebral. Antes de embarcar de volta para o Rio de Janeiro, o ator imobilizou um braço.

O esforço foi recompensado pelo carinho e pela aprovação dos espectadores. “A peça é densa, mostra esse caos psicológico, e Aderbal se saiu muito bem”, atesta o servidor público Arnaldo Costa, 56 anos. “É puro teatro. Gostei de ver um espetáculo cru, com cenário enxuto, e o ator soberano no palco”, confirmou a também servidora pública Vanessa Pádua, 35 anos. “Além do dinamismo de representar muitas personagens, ele nos dava uma introdução da cena, que nos permitia imaginar a situação. Também gostei da mistura que ele faz com o cinema”, destaca a relações públicas Caroline Prata, 34 anos.

Latão potente

Em contraponto ao acidente, o teatro operou sem atropelos para a paulista Cia. do Latão, que trouxe à cidade o primeiro ato de Camponesa — Ópera dos vivos, peça em quatro atos (e com quatro horas de duração), atualmente em cartaz em São Paulo.

O espetáculo, que traça um panorama da cultura brasileira nos anos 1960, usando as linguagens do teatro, do cinema, da música e da tevê, é um marco de ousadia na história do Latão. “Pela grandeza dos assuntos abordados, do projeto, pela capacidade de iluminar lugares diferentes”, explica o diretor e dramaturgo do grupo, Sérgio de Carvalho.

Em Brasília, o trecho apresentado foi Sociedade mortuária, um relato sobre associações de camponeses que se organizavam para garantir enterros dignos, ideia que desembocou na criação das Ligas Camponesas. A montagem traz fortes referências do teatro de Brecht, sempre presente nas produções da companhia, e adiciona a jornada educativa de Paulo Freire.

A despedida frágil

» Parte da safra de espetáculos da cidade que movimenta o Cena Contemporânea, a peça A despedida, com direção de Iuri Saraiva, lotou o Espaço Cultural Mosaico durante as duas noites em que esteve em cartaz. O cenário, o figurino e a música ao vivo, com forte influência africana, causam boa impressão. A dramaturgia, porém, não se resolve. O texto fragmentado não permite que se forme uma unidade de pensamento. Passagens curiosas da biografia da princesa Isabel se revelam, como a troca de marido com a irmã, a dificuldade para engravidar e as maledicências da imprensa e do parlamento (embora esses sejam apresentados de forma vilanizada e estereotipada). No retrato pintado pela montagem, a princesa ganha um contorno idealizado e pouco humano.

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MÚSICA » Hélio Delmiro de volta à ativa Fonte: correioweb 02/09

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Juiz de Fora (MG) — Doido para voltar a pegar o violão, cheio de ideias na cabeça, coração renovado e sentimento transformado pela solidariedade dos amigos e a dedicação dos filhos. Hélio Delmiro, 64 anos, não tem mais dúvidas de que tudo na vida é passageiro. “Estive no limiar”, conta o violonista e compositor carioca.

Vítima de uma isquemia transitória, o músico — que já sofre de hipertensão e diabetes — fugiu de uma cirurgia de risco por mais de dois anos, vivendo na roleta-russa até ser submetido a uma angioplastia, em Juiz de Fora (MG). Recém-saído da internação de mais de 30 dias, ele descansa na casa da filha, Luciana, no Bairro de São Mateus, na cidade mineira. “Como não tenho tempo a perder e preciso estudar, a opção recaiu sobre a angioplastia, da qual eu posso me recuperar mais rapidamente”, explicou Delmiro, cujo mais recente disco – Compassos, de 2004 – deverá ganhar continuidade em breve. “Tenho repertório inédito para gravar pelo menos quatros CDs”, anuncia, empolgado, o violonista, considerado o “número um” do instrumento no país.

Pastor evangélico, ele fala da ajuda financeira que está recebendo de amigos para sobreviver. “Não tenho perspectiva do que fazer daqui para a frente. Já que recebo voluntariamente, aceito. É bem-vindo, eu preciso realmente”, revela, orgulhoso por ser um “homem de Deus”.

Delmiro se recorda também da prisão por falta de pagamento de pensão alimentícia aos filhos, ocorrida em 1º de junho de 2004, em Santos (SP). Na cela comum, que comportava 80 detentos, viviam 160. Além de uma rebelião com morte, o violonista assistiu a uma tentativa de fuga e greve de fome. O episódio, segundo revela, irá render um livro.

O estado de saúde do músico começou a se complicar em 2009, depois de um checape. “O médico marcou a cirurgia para 48 horas depois, mas eu corri”, confessa.

Pai de seis filhos de casamentos diferentes, mas artista de poucos parceiros — Aldir Blanc e Paulo César Pinheiro são alguns dos eleitos —, Delmiro tocou com Clara Nunes, Elis Regina e Sara Vaughan. “Praticamente dividimos um disco juntos”, orgulha-se, lembrando de I love Brazil (1978) e Copacabana (1979), que gravou com a cantora norte-americana.

Longe dos palcos – o último concerto foi na Itália, há dois anos –, ele acredita que o mercado para a música instrumental existe. “Estou sendo preterido. Alguma coisa está errada, eu estou tocando ‘pra cacete’”, propagandeia o músico, cuja última incursão em estúdio foi um take de Beijo partido, que dedicou ao autor e amigo Toninho Horta. Com sete álbuns gravados, tem predileção pelo recente Compassos. “É o mais completo no sentido da unidade”, elogia, atribuindo o acerto aos companheiros Jorge Helder (baixo), Bruno Cardoso (teclado) e Jurim Moreira (bateria).

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