quinta-feira, 31 de março de 2011

CARLOS HEITOR CONY

Um homem

Fonte: folha.uol.com.br 31/03



RIO DE JANEIRO - Para falar a verdade, nem sei a que partido o vice-presidente José Alencar pertence. Apesar de possuir uma biografia de sucesso empresarial, só tomei conhecimento de Sua Excelência quando compôs chapa com Lula no primeiro mandato. Apreciei algumas de suas declarações, mas não cheguei ao ponto de admirá-lo.
Nos últimos anos, sim, passei não apenas à admiração, mas ao carinho. Embora não o conheça pessoalmente, estou torcendo para que tudo dê certo no seu tratamento -e desde já todos devemos a ele um exemplo de como enfrentar o maior desafio que o tempo e o destino colocam à frente de todos nós.
José Alencar é mineiro, mineiro de Ubá, terra de Ary Barroso, do Antônio Olinto, do Ferdy Carneiro e de outros amigos comuns. Não conheço em detalhes sua carreira política, mas como vice-presidente tem dado o recado da discrição que o cargo exige. Mas não é por aí que passei a gostar dele.
É impressionante como mantém seu sorriso, como se apresenta a cada saída dos hospitais onde se interna. Os especialistas são unânimes em ressaltar a importância do alto-astral no tratamento de uma moléstia que costuma derrubar física e moralmente os seus portadores.
Para esses, sobretudo, o comportamento de José Alencar é um dos melhores exemplos de como devem se portar os atingidos pela doença. Ele continua na ativa, não sentou no meio-fio para chorar o leite derramado. É um vice-presidente. Mas não é um vice-homem. É um homem em pleno exercício de sua condição humana.
PS - Reproduzo crônica publicada em 24 de janeiro de 2008. Nesse mesmo dia, José Alencar me telefonou, falamos de amigos comuns e, num longo bate-papo, descobrimos que, em algum tempo e território, fomos companheiros de infância.

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Agilidade processual se alcança com boa gestão

Fonte: conjur.com.br 31/03

Parece-me que não é apenas a coluna vertebral do senhor ministro Joaquim Barbosa que anda doente. Outras colunas vertebrais também estão enfermas no Supremo Tribunal Federal de hoje. As colunas da democracia; dos direitos humanos e das prerrogativas dos advogados também estão machucadas.

Em nome e em homenagem a uma pretensa agilidade processual, o senhor ministro Cesar Peluso, com todo o respeito devido, atropela direitos fundamentais, agride a advocacia brasileira e sustenta posições ditatoriais e arbitrárias em tempos de propalada democracia.

Após diversos apelos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), mantém o senhor ministro Cesar Peluso o impedimento de recebimento de Habeas Corpus impetrados por advogados em favor dos seus pacientes no Supremo Tribunal Federal, exceto se ali requeridos exclusivamente por meio eletrônico ou pela pessoa do próprio paciente, sem assistência de advogado.

Considerando que no Brasil existem 700 mil advogados e que tão somente um número inferior a 10 mil estão habilitados ao requerimento por meio eletrônico, significa dizer que tal posicionamento impede que em torno de 690 mil advogados levem à Suprema Corte seus Habeas Corpus.

Isto, receio, parece ser para afastar ou ao menos dificultar a presença da advocacia brasileira naquela corte. Tal posicionamento inflexível é extremamente ofensivo às prerrogativas dos advogados e atenta inegavelmente contra os direitos da pessoa humana, pois tais Habeas Corpus impetrados por advogados não são recebidos fisicamente mesmo quando requeridos em favor de pacientes presos e encarcerados. Isso é desumano. Extremamente desumano.

Por sua vez, sua excelência o senhor ministro Peluso não esconde pretender um CNJ mais submisso, brando, com menor poder de punição de alguns magistrados que saem da linha. Nesse aspecto trava uma queda de braço com a eminente ministra corregedora nacional, Eliana Calmon, que não tem poupado esforços para submeter magistrados de todo o país aos ditames da lei, da moral, da ética e da disciplina, quando e onde necessária se faz sua intervenção.

E agora, como se a pretender provocar mais uma vez a advocacia brasileira, pois no momento em que esta encontrava-se reunida em sessão plenária do Conselho Federal da OAB, para lançamento do Movimento em Defesa do CNJ, onde convidada a se fazer presente a senhora ministra Eliana Calmon, o senhor ministro Peluso se fez ouvir apresentando seu texto de Projeto de Emenda Constitucional (PEC), em que agora também pretende já ver executadas todas as sentenças, inclusive aquelas proferidas em processos criminais, após sua confirmação por uma única instância recursal.

Em matéria criminal, essa iniciativa se constitui em mais um atentado aos direitos humanos, na medida em que nossos presídios – verdadeiros depósitos de presos – estarão abarrotados de presos “temporários”, ali encarcerados “provisoriamente”, até que instância recursal superior os declare, definitivamente, inocentes.

Que se construa, então, em todo o país, dezenas de novos presídios para atender os possíveis e prováveis encarcerados provisórios inocentes que surgirão. Em vez dos conhecidos Bangu I, II e III, teremos agora os Presídios Provisórios dos Inocentes (PPI) I, II, III, etc.

Serão milhares de presos em resposta à primeira confirmação de uma sentença criminal condenatória e serão outros milhares de presos soltos quando as instâncias superiores os declararem, finalmente, inocentes; ineptas as denúncias; nulas as sentenças; prescritas as pretensões punitivas e reduzidas as penas a patamares não condizentes com o encarceramento.

E quem atua na área criminal, juízes, promotores, advogados e defensores públicos sabem muito bem que o número de casos de absolvição, redução drástica das penas, decretos de nulidade de sentenças, trancamento de ações penais diversas por Habeas Corpus nas instâncias superiores – STJ e STF – é enorme. E como ficarão, então, os presos, aos montes, quando reconhecidamente inocentes após o encarceramento? Terão o rótulo de uma nova classe social? Serão os ex-presidiários inocentes? EPIs?

E fiquem certo que os inocentes ficarão presos e encarcerados por muito tempo, pois pode até parecer masoquismo, mas o certo é que os recursos para as instâncias superiores, pelo projeto do senhor ministro Peluso, poderão continuar a ser manejados, ou seja, poderão continuar abarrotando os tribunais superiores, contudo, com uma grande e essencial diferença, ou seja, a presunção não será mais a da inocência até o trânsito em julgado, e sim a da culpa com encarceramento antecipado antes do último julgado, que poderá ser o de reconhecimento tardio da inocência e consequente absolvição. Assim, o projeto do senhor ministro Peluso traz apenas uma inversão de valores, humanos.

O senhor ministro Peluso, para assim propor, o fez na presunção equivocada de que os juízes de primeira instância são infalíveis em suas sentenças criminais e que tais veredictos de primeiro grau serão examinados, relatados e julgados sempre em ambientes tranquilos de esfera recursal, por desembargadores com bastante tempo ao minucioso exame do processo e não muitas vezes em sistema de mutirão, apenas por juízes também de primeiro grau, convocados, ou até por assessores, mal ou bem preparados, conhecedores ou não de processos criminais e do Direito Penal. Esse projeto não se presta para atingir o objetivo anunciado por sua excelência. O problema não concentra-se nos recursos, e sim na má gestão do próprio Judiciário.

Não temos juízes em milhares de comarcas; em milhares de casos temos um só magistrado atendendo, sozinho, em mais de uma comarca; incontáveis juízes que só trabalham terça, quarta e quinta; juízes que não produzem e não são punidos; juízes por aí mal remunerados; comarcas sem estrutura mínima de pessoal e equipamentos; tribunais de apelação abarrotados por ausência de pessoal, magistrados e estrutura suficientes; burocracia por vezes estúpida e desnecessária; gastos excessivos em supérfluos; prédios palacianos; carros de luxo; corredores pouco movimentados que mais parecem pistas de skates e patins; plenários suntuosos; ares imperiais; uma Justiça atrasada e distante do seu povo e de seus anseios.

Disso é que deveria tratar o senhor ministro Peluso e não propor a correção da má gestão do Judiciário levando ao cárcere, precocemente, muitas pessoas inocentes antes de assim declaradas em nome de uma agilidade processual que, sabe-se de antemão, que não será alcançada com iniciativas do tipo.

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20º FESTIVAL DE CURITIBA

Espetáculo de rua enxerta comédia em obra de Shakespeare

A peça "Sua Incelença, Ricardo 3º", do grupo Clowns de Shakespeare, leva a trama do autor para o Nordeste

OS FIGURINOS MISTURAM REFERÊNCIAS DO CANGAÇO COM SOFISTICAÇÃO E SINGELEZA Fonte: folha.uol.com.br 31/03


Como sugere o título, não há purismos em "Sua Incelença, Ricardo 3º", adaptação de William Shakespeare pelo grupo Clowns de Shakespeare, que abriu o Festival de Curitiba com um espetáculo de rua anteontem.
Desde sua criação em 1993, a trupe investiga a comicidade na obra do autor.
Traços de apropriação aparecem em trocadilhos como "Muito Barulho por Quase Nada", "Sonhos de Uma Noite Só" e "Megera DoNada", comédias shakespeareanas montadas pelo grupo. Nelas o universo do dramaturgo é transportado para um ambiente nordestino por meio de um diálogo fértil com poetas populares e um clima mais cotidiano.
Neste primeiro mergulho em uma tragédia, contaram com a direção de Gabriel Villela, consagrado por seu "Romeu e Julieta" com o Grupo Galpão, que compartilha da mesma sensibilidade lírica e popularesca.
No cenário de Ronaldo Costa, carroças adereçadas com galhos distorcidos remetem à aridez do sertão, formando pequenos palcos com caráter itinerante.
Os figurinos misturam referências do cangaço com máscaras de palhaço, um sincretismo feito com sofisticação e singeleza, no arremate da costura ao mesmo tempo circense e regionalista. O mesmo ecletismo visual está na composição musical, que harmoniza influências cancioneiras e repentistas com um mundo pop.
Além da abertura com os Beatles, Freddie Mercury é incorporado por César Ferrario em cena divertidíssima. O coro de atores, competentes tanto no domínio da voz como na ardilosa pantomima, desperta aplausos.

FÁBULA
Distante do trágico, a fábula original é mantida. Depois de longa guerra entre as famílias de York e de Lancaster, a Inglaterra passa por um período de paz sob o reinado de Eduardo 4º.
Até que o irmão mais novo dele, Ricardo 3º, amargo por sua deformidade física, decide matar quem o impedir de conquistar o trono.
Interpretado com rigor por Marco França, entra em cena como "porco imundo sanfoneiro". A grande novidade é que todos os personagens são travessos.
Lady Ana, a viúva seduzida, interpretada por Dudu Galvão, adquire pinceladas grotescas com bexigas coloridas no peito. A rainha Elizabeth ganha graça e pulso forte com Titina Medeiros.
A opção por enxertar o cômico no trágico chega ao ápice na cena mais torpe do original, em que o assassinato dos filhos de Clarence é encenado por dois cocos que têm seus canudinhos sufocados.
Neste sentido, a lógica da comédia calcada na subversão é muito bem-sucedida.
Opções cênicas como esta fazem com que Ricardo 3º perca sua vilania, levando junto sua genialidade de sedutor. Ganham os personagens secundários que estão em concordância com um mundo violento.
Com isso, é somente por meio deles que se constrói uma relação de mais complacência com a plateia.

SUA INCELENÇA, RICARDO 3º

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Consultoria defende gestão no curso de Direito

Fonte: conjur.com.br 31/03

A Selem, Bertozzi & Consultores Associados está em campanha junto às OABs de todo o país para a implementação da matéria Gestão Legal do primeiro ao quinto ano dos cursos de Direito. Rodrigo Bertozzi, consultor em negócios jurídicos, prega a urgente introdução de temas de alto impacto para o desenvolvimento da carreira profissional do aluno, como gestão de finanças e pessoas, produção jurídica e estratégica, além de marketing jurídico ético. "Gestão e excelência para comandar escritórios, tribunais, delegacias, procuradorias e departamentos jurídicos devem estar já no primeiro ano das salas de aula", diz Bertozzi.

Eficácia e confiança
De acordo com a consultora em gestão de serviços jurídicos, Lara Selem, a competição com escritórios internacionais hoje é também tão real como a recente inclusão digital em todas as camadas do serviço jurídico, público e privado. "Quem sai ganhando com o desenvolvimento da visão estratégica, desde a sala de aula até o escritório, é o cidadão. Mais gestão significa menos espera, mais eficácia e mais confiança. Resistir é apenas atraso", conclui.

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Justiça mais rápida

Tribunal paulista baixa resolução audaciosa para identificar juízes mais improdutivos e acelerar a tramitação de processos Fonte: folha.uol.com.br 31/03



O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) deu um passo para acelerar ações ao determinar que magistrados com processos sem decisão há pelo menos três anos sejam afastados das causas e expliquem as razões do atraso. Em consequência, mais de 47 mil casos de segunda instância pendentes no TJ serão agora repassados para desembargadores com melhor desempenho.
O TJ prevê ainda que o desembargador com produtividade igual ou inferior a 70% da média de seus pares de seção ou subseção (que julgam os mesmos tipos de casos) poderá ser investigado pelo tribunal. Os magistrados com baixo desempenho serão impedidos de participar de comissões e podem ter ainda a autorização para dar aulas revista pelo Conselho Superior da Magistratura.
Os processos antigos redistribuídos devem ser julgados em até 120 dias. Na definição de um desembargador, o espírito é de mutirão contra a morosidade da Justiça paulista. Não se pode, porém, desconsiderar o volume da demanda do Judiciário no Estado.
Somente no mês de fevereiro, foram julgados 62.100 processos. O tribunal recebeu 45.858 novos casos, dos quais 41.889 foram distribuídos. Tramitam atualmente no Tribunal de Justiça paulista, em segunda instância, mais de 773 mil processos.
Tais esforços por maior eficiência e transparência da Justiça já haviam recebido impulso decisivo do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), durante a gestão do então presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes.
Um dos marcos desse processo recente de modernização administrativa foi a chamada "Meta 2", estipulada pelo CNJ, segundo a qual todas as ações distribuídas antes de 2006 deveriam ser julgadas até dezembro de 2009. O objetivo não foi atingido, mas houve inegáveis avanços, e a meta vem sendo reeditada desde então.
Sabe-se, porém, que ainda há muito por fazer. Como relatou ontem esta Folha, o governo federal e os bancos, estatais e privados, são os maiores responsáveis por sobrecarregar a Justiça no país. Entre as cem instituições com mais ações tramitando, o setor público federal e os bancos respondem por 76% dos processos, segundo pesquisa feita pelo CNJ.
Trata-se, evidentemente, de uma distorção que precisa ser analisada e combatida. Muitas ações e recursos são apresentados não com o intuito de buscar Justiça, mas apenas de ganhar tempo. No âmbito do poder público, ao menos, cabe rever a cultura de recursos automáticos e as limitações legais para que procuradores possam fazer acordos e aceitar propostas de conciliação.

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VINHOS

JORGE CARRARA - jcarrar@attglobal.net

Tradicional adega argentina mostra rótulos premium

Fonte: folha.uol.com.br 31/03



A Nieto Senetiner, tradicional adega argentina, apresentou na semana passada, em São Paulo, exemplares das suas linhas premium. Dois tintos foram destaque: um malbec, o Don Nicanor, e o Limited Edition, um bonarda -cepa na qual a firma é reconhecida especialista.
Vale a pena conferir também um Reserva lançado recentemente pela casa. Os três são uma bela pedida para escoltar churrascos e massas com molhos robustos.


RESERVA CABERNET SAUVIGNON-SHIRAZ 2008
Saboroso e equilibrado, tem taninos finos. Cerejas, baunilha e suave tabaco dão forma ao seu sabor, rico e persistente
AVALIAÇÃO 88/100
PREÇO R$ 32

DON NICANOR MALBEC 2008
Redondo, com boa textura, mostra fruta (ameixas-pretas maduras), tons de madeira e suave especiaria, que marcam o final
AVALIAÇÃO 89/100
PREÇO R$ 52,10

BONARDA LIMITED EDITION 2008
Outro de bom corpo. Sedutor, combina geleias, compotas, toques de cedro e cassis no seu paladar, sedoso e persistente
AVALIAÇÃO 91/100
PREÇO R$ 85,30
ONDE todos na Casa Flora, tel. 0/xx/11/3327-5199

BOM E BARATO

Sugestão de até R$ 40

MATILE PINOT GRIGIO 2009: branco da Úmbria, centro da Itália. Denso em boca une fruta (maçã, carambola madura), toques cítricos e minerais num sabor realçado por boa acidez
AVALIAÇÃO 86/ 100
BOM PARA frutos do mar, queijos leves
PREÇO R$ 29,50
ONDE Rei dos Whisky's & Vinhos, tel. 0/xx/11/3488-2199

quarta-feira, 30 de março de 2011

Fronteiras do Pensamento terá oito palestrantes

Lista de conferencistas, que se apresentarão na Sala São Paulo, terá a presença do turco Orhan Pamuk

Projeto de conferências de intelectuais, criado em Porto Alegre, incluirá São Paulo em sua sexta edição

Fonte: folha.uol.com.br 30/03


O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, autor de "Amor Líquido", e o filósofo francês Luc Ferry, que escreveu o best-seller "Aprender a Viver", estão entre os conferencistas da sexta edição do projeto Fronteiras do Pensamento.
O ciclo de palestras, que ocorrerá de maio a dezembro em São Paulo e Porto Alegre, teve a a parte paulistana da programação anunciada ontem, na Casa do Saber (ainda resta definir as datas para a capital gaúcha).
No total, serão oito conferências de uma hora e meia, espaçadas ao longo de oito meses, sempre às 20h30, na Sala São Paulo.
A lista de palestrantes ainda conta com o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, referência mundial no estudo de neuropróteses, e o ensaísta suíço Alain de Botton, autor de "A Arquitetura da Felicidade", famoso por popularizar a filosofia em programas de televisão.
Todas as palestras serão mediadas por jornalistas (ver lista completa abaixo).
O professor Fernando Schüler, curador do seminário, comemorou o fato de trazer antigos sonhos de consumo, como o sociólogo Zygmunt Bauman: "Já fazia tempos que tentávamos contar com a presença dele, que finalmente concordou, aos 86 anos. Temos, a nosso favor, o fato de os intelectuais hoje serem mais ativos por mais tempo".
Schüler também destacou a presença de Alain de Botton ("Um filósofo quase da geração Y, que prefere falar de nosso tempo hiperconectado a citar cânones como a Escola de Frankfurt."), e de Luc Ferry que, quando Ministro da Educação da França, entre 2002 e 2004, proibiu o uso de véus e outros símbolos religiosos em escolas públicas do país.
"Além disso, contaremos com a presença de três prêmios Nobel", destacou o curador, referindo-se ao ex-presidente polonês Lech Walesa, à juíza iraniana Shirin Ebadi -ambos laureados com o Nobel da Paz- e ao escritor turco Orhan Pamuk, vencedor do prêmio em Literatura.
"Mas a participação dos palestrantes não se resume aos seminários. Queremos que eles gerem pautas culturais para o ano inteiro", acrescentou.

PASSAPORTE
Criado em 2006, em Porto Alegre, o Fronteiras contou, em edições passadas, com mais de 80 palestras de intelectuais variados, como o jornalista Tom Wolfe, o compositor Philip Glass e o cineasta David Lynch.
No ano passado, o projeto -então dividido entre Porto Alegre e Salvador- recebeu o lendário líder estudantil de Maio de 1968, Daniel Cohn-Bendit, e o prêmio Nobel de literatura, Mario Vargas Llosa. Em 2011, pela primeira vez, as palestras ocorrerão também em São Paulo.
O passaporte para todas as palestras pode ser adquirido no site Ingresso Rápido, por valores que variam de R$ 1.640,00 (mezanino) a R$ 1.960,00 (plateia). (Schüler diz que, à diferença do que ocorre na Flip, a Festa Literária de Paraty, os participantes do Fronteiras são remunerados, o que encarece os bilhetes.)
Não é possível comprar para conferências individuais.

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Pesquisa da UnB aponta fragilidade do celibato na igreja católica

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Edlene Silva conta em livro a conturbada trajetória da abstenção sexual desde a Idade Média à criação do Movimento de Padres Casados Fonte: UnB.br 30/03

Entre a batina e a aliança existem milhares de homens de fé tentados pelo desejo. Só no Brasil, estima-se que pelo menos quatro mil padres deixaram a função sacra para casar e ter uma família. Pesquisa da Universidade de Brasília revela que a dificuldade de se manter casto diante do afloramento da sexualidade sempre existiu entre sacerdotes, desde a Idade Média. “A história mostra que celibato é uma prática insustentável”, afirma Edlene Silva.

A pesquisadora conta a conturbada trajetória do celibato, desde a sua criação pela igreja no século XII à recente fundação do Movimento de Padres Casados, na década de 1970, no livro Entre a Batina e a Aliança: Sexo, Celibato e Padres Casados. A publicação, fruto de uma tese de doutorado defendida em 2008, no Departamento de História, chega às mãos dos leitores às 18h desta quarta-feira, 30 de março, na livraria Sebinho, na Quadra Comercial 406, da Asa Norte.

A professora Edlene investigou a questão da abdicação do celibato entre sacerdotes. Para isso, a professora da UnB investigou a institucionalização do Movimento de Padre Casados no Brasil, fundado em 1979 no Rio de Janeiro. “Na década de 1970, eram 30 casais. Hoje são milhares de padres em todo o país”, observa. “Busquei compreender como esse movimento se formou e quem são essas pessoas que vivenciam o conflito de largar a batina para se casar”, completa a professora.

Antes de chegar aos dias de hoje, a pesquisadora baiana buscou as raízes do celibato, que se tornou obrigatório para o clero latino no século XII. Ela encontrou evidencias de que, desde a sua criação, a abstenção sexual de padres sempre esteve rodeada de conflitos, violência e dramas pessoais. “O concubinato (união entre casais não formalizada pelo casamento civil ou pela igreja) foi o crime mais cometido na igreja tanto na Idade Média como na Modernidade. Uma resposta a uma imposição”, conta.

A pesquisadora avalia a obrigatoriedade do celibato como uma demonstração de força e uma forma de diferenciar o clérigo das pessoas comuns. “Em meados do século XVI, com a Reforma Protestante, o celibato foi radicalizado e reforçado como uma resposta da igreja aos questionamentos de Lutero”, conta. “Foi nesse período de conflitos, em que a Inquisição perseguia fortemente o celibato, que a igreja abriu os primeiros seminários para formação dos chamados homens santos”, observa.

O concubinato só veio a ser debatido pela igreja no início da década de 1960, com o Concílio do Vaticano Segundo. Na época, a pressão social por conta dos crescentes casos de padres casados ilegalmente e ainda em atividade levou a instituição a autorizar a concessão de licença para os sacerdotes que desejassem abdicar da atividade como padre para se casar na igreja. “Houve uma debandada geral de padres em todo mundo, o que revelou um problema escondido pela repressão”, avalia.

CRISE – A perda de padres para o casamento levou o papa João Paulo II a endurecer a postura da igreja diante do celibato. “Apesar de não proibir a prática, a igreja classificava os dissidentes como infelizes, imorais, infiéis e doentes”, relata Edlene. A postura rígida continuou após a morte de João Paulo II, em 2005, e permanece até os dias de hoje na figura do papa Bento XVI. “Ele é um dos mais duros em relação ao celibato”, afirma. “Entraves para a concessão da licença, que chega a levar 15 anos para sair, e críticas ao sexo mesmo no casamento são comuns no Vaticano”.

E é nesse contexto de crise em que se encontra o Movimento dos Padres Casados do Brasil. “A história desses homens revela a necessidade de se debater um tema que ainda é visto como tabu e, sob o meu ponto de vista, se mostra insustentável”, afirma Edlene. Segundo ela, apesar de largar a batina para se casar, a grande maioria deles ainda se considera padre. “O casamento não desfaz os vínculos com a igreja e com a fé”, conta ela, que chegou a encontrar padres que rezavam missas clandestinamente.

Pela falta de material de pesquisa sobre o assunto, Edlene buscou informações em registros encontrados em jornais, revistas, internet e em entrevistas com líderes do movimento. “É um tema muito pouco pesquisado, mas creio que o livro permite ao leitor fazer seu julgamento sobre o olhar que lancei sobre a história”, avalia ela.

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Obra de Drummond será editada pela Cia. das Letras

Publicação dos livros começa em 2012, em versão impressa e eletrônica

Poeta mineiro era antes editado pela Record; mudança buscou novo perfil editorial, afirma agente literária
Fonte: folha.uol.com.br 30/03



Os livros do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) passarão a ser editados pela Companhia das Letras.
O anúncio foi feito na manhã de ontem pela editora. A obra do poeta, fora alguns títulos especiais que saíram pelo Instituto Moreira Salles e pela Cosac Naify, era editada antes pela Record.
Matinas Suzuki Jr., diretor executivo da Companhia das Letras, contou que a editora foi procurada pela família do poeta na semana passada.
"Foi tudo muito rápido. A família nos propôs a mudança", diz ele.
O fator decisivo para a troca de editora teria sido o trabalho que a Companhia das Letras vem realizando com a publicação das obras completas de autores como Vinicius de Moraes (1913-1980), Jorge Amado (1912-2001), Lygia Fagundes Telles e Erico Verissimo (1905-1975).
A obra de Drummond começa a sair pela Companhia a partir de 2012, data que marca os 25 anos de morte do poeta. O título de estreia ainda não foi definido.
No total, a obra completa do autor é formada por 44 livros: 23 de poesia, 20 de prosa (crônicas e contos) e um infantil. Além da versão impressa, todos serão lançados simultaneamente em formato eletrônico, os e-books.
Os livros também ganharão um novo projeto gráfico e a inclusão de notas, introduções e prefácios especiais.
Segundo Suzuki Jr., o acordo reforça a tendência da editora de se especializar em grandes autores brasileiros.
"Trata-se de uma obra extremamente valiosa, é um dos maiores poetas e cronistas do país. Nosso catálogo nacional fica agora muito forte", diz ele.

DESPEDIDA AMIGÁVEL
O contato entre os herdeiros de Drummond (os netos Pedro e Luís Maurício) e a Companhia das Letras foi intermediado pela agente literária Lucia Riff, sócia da Agência Riff.
Segundo ela, a Record tinha feito um bom trabalho nos últimos anos e a saída foi "amigável, sem crise".
"A família estava satisfeita, mas queria uma mudança de perfil editorial. A Companhia das Letras representa um trabalho editorial mais refinado e tem uma força de venda maior."

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Domenico se dedica à poesia e à delicadeza em estreia solo

OS ARROUBOS (VOCAIS E SONOROS) ESTÃO MAIS SUTIS E BEM ELABORADOS, COMO NA FAIXA-TÍTULO

Fonte: folha.uol.com.br 30/03

"Sincerely Hot", álbum de Domenico ao lado dos "+2", Kassin e Moreno Veloso, era uma profusão quente e colorida de ritmos, instrumentos, efeitos eletrônicos e participações -da turma que orbita a Orquestra Imperial.
Sua voz, ora doce, ora gritada ou distorcida por vocoder, passava com desenvoltura por rock, pop, jazz, bossa nova, num resultado instigante, no disco mais surpreendente do trio.
Em "Cine Privê", o Domenico solo -mas acompanhado pelos mesmos camaradas- se dedica à delicadeza, à poesia. O desejo de criar imagens cinematográficas por meio de palavras e sons, e um jeito de cantar baixinho, da escola da bossa, estabelecem a linearidade dispensada anteriormente.
Os arroubos (vocais e sonoros) estão agora mais sutis e bem elaborados, como na faixa-título, que segue num ritmo crescente, ditado pelo compasso da bateria -sempre presente-, e acentuado pelo clima espacial dos sintetizadores. Na letra, versos formam belos cenários, como "vejo a paisagem fora/pelo meu visor/ dois olhos nus, anos-luz do meu amor".
Essa sinestesia entre som e letra segue por todo o CD. Na bossa "Os Pinguinhos", a percussão compõe a sensação de que gotas de chuva "molhavam o quintal".
Em "Receita", parceria com Jorge Mautner, a levada jazz é quebrada por efeitos dos sintetizadores e da guitarra de Pedro Sá, que dão a ideia de "quarta dimensão" descrita na música. "Pedra e Areia" é poesia concreta, seca, no baque das congas, que se desfaz com o vocal suingado de Adriana Calcanhotto.
De uma ponta a outra, as referências declaradas de Marcos Valle se mesclam um quê do tropicalismo de Rogério Duprat. Assim, "Cine Prive" é um álbum em que, a cada audição, novos detalhes se destacam; versos são descobertos. Como num bom filme que surpreende. Mesmo visto repetidas vezes.

CINE PRIVÊ

ARTISTA Domenico
LANÇAMENTO Coqueiro Verde
QUANTO R$ 24,90, em média
AVALIAÇÃO ótimo

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

O empresário cordial
Fonte: folha.uol.com.br 30/03



SÃO PAULO - José Alencar era um tipo bonachão, sorridente e contador de "causos". Dava a impressão de estar sempre confraternizando com as pessoas. Mesmo durante seu calvário, parecia se comportar de forma amena e otimista. Conquistou a simpatia popular e será lembrado sobretudo por essa teimosia mansa contra a morte.
Em termos políticos, Alencar desempenhou alguns papéis importantes para Lula. A começar pela eleição, em 2002, quando, num ambiente de muita desconfiança contra o petista, funcionou como uma espécie de "sossega-empresário". O vice não era um industrial qualquer. Tinha peso. Sua presença na chapa reforçava, para além da retórica, os compromissos assumidos na famosa "Carta ao Povo Brasileiro", dirigida aos mercados.
Justiça seja feita: o artífice da aliança com o PL e da escolha de Alencar como par do metalúrgico não foi Lula, mas José Dirceu.
Em 2005, quando eclodiu o mensalão, Dirceu caiu e Lula viveu a maior crise de seu governo. A palavra impeachment passou a rondar o noticiário, mas Alencar em nenhum momento se assanhou. Não deu margem para que alguém achasse que poderia contar com ele para desestabilizar o presidente. Dilma, em situação semelhante, poderia ter a mesma confiança?
Alencar foi ainda uma espécie de grilo falante do governo, sempre protestando contra os juros altos. Com o passar do tempo (e o sucesso de Lula), essa ideia fixa o transformou num personagem algo folclórico, meio café com leite.
Ruim -nada folclórico, mas bem típico do patriarcalismo brasileiro- foi seu comportamento diante da filha que se negou a reconhecer e a maneira com que se referiu à mãe, procurando desqualificá-la.
Alencar era, enfim, o próprio empresário cordial -um símbolo da aliança entre capital e trabalho num governo de comunhão nacional. Não há dúvida de que Lula, pai dos pobres, mãe dos ricos, tinha nele uma espécie de cara-metade.

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ANTONIO DELFIM NETTO

Antenado
Fonte: folha.uol.com.br 30/03



O economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, publicou no último dia 23 (http://tinyurl.com/4gp3gaz) um resumo das conclusões de uma importante conferência ("Repensando a política macroeconômica") patrocinada pelo organismo.
Ela reuniu o que há de mais significativo no mainstream da teoria macroeconômica para uma reflexão sobre a profissão. Quebrou-se o "encanto".
Mesmo os mais renitentes reconhecem que a era da moderação, que antecipou a crise, tinha pouca coisa a ver com as virtudes da política produzida pelos bancos centrais, supostamente apoiados numa "ciência".
Agora que o futuro é passado, sabemos que a crise foi gerada por uma soma de equívocos cometidos sob os olhos dos bancos centrais, portadores da ideologia que os "mercados" eram capazes de controlar os riscos embutidos em inovações financeiras aparentemente benignas, que eles (como confessou Alan Greenspan) nem sequer entendiam.
Vamos destacar três, das nove conclusões/"tentativas" recolhidas por Blanchard:
1ª) Estamos entrando num magnífico mundo novo, muito diferente em termos do exercício da política macroeconômica. Na velha discussão sobre os papéis do mercado e do Estado, o pêndulo avançou -pelo menos um pouco- na direção do Estado;
2ª) A macroeconomia deve ter múltiplos objetivos e muitos instrumentos para implementá-los. O objetivo da política monetária, por exemplo, precisa ir além do controle da inflação. Precisa incluir o crescimento do PIB e a estabilidade financeira e incorporar entre seus instrumentos medidas macroprudenciais. A política fiscal não pode restringir-se aos "gastos" menos a "receita" e os "multiplicadores" que influenciam a economia.
Existem, potencialmente, dezenas de instrumentos, cada um com seus próprios efeitos dinâmicos que dependem do estado da economia e das outras políticas.
3ª) Temos muitos instrumentos e não sabemos como utilizá-los. Em muitos casos, não temos certeza sobre o que eles são, quando e como devem ser utilizados e se vão ou não funcionar.
A conclusão é que os problemas são mais complexos do que pareciam. Como não sabem bem como usar os novos instrumentos, mas sabem que, potencialmente, podem ser mal utilizados, como devem trabalhar os formuladores da política econômica?
O melhor é uma política cuidadosa, paciente e de pequenos avanços: o pragmatismo é essencial! Parece claro que o Banco Central de Alexandre Tombini está mais antenado com as dúvidas do "estado da arte" reveladas na conferência do que os "cientistas financeiros" que o criticam.